segunda-feira, 24 de abril de 2023

Lua e a Goiabeira

 

Quando Lua nasceu, quem escolheu o seu nome foi o pai dela, e não foi por acaso a escolha do nome “Lua”, pois o pai, além de gostar de observar as estrelas e a lua brilharem à noite no céu, era um poeta! Sabe, esses poetas fazedores de versos entusiastas e cheios de fantasias? Alberto era um verdadeiro poeta. Ele adorava recitar poesias para a filha. A mãe de Lua, a Maria, adorava ouvir o Alberto recitar as poesias para ela. De tanto ouvir poesias românticos, Maria se apaixonou e se casou com Alberto.

Pouco tempo depois que Lua nasceu, seu pai comprou um lindo sítio, lá, colocou algumas vaquinhas, cavalos, galinhas e outros bichinhos. Havia passado anos juntando as suas economias para realizar este sonho tão acalentado. E finalmente, ele conseguiu.

Por ter muitas árvores e flores no sítio, se tornara um lugar muito frequentado por pássaros de várias espécies, e pequenos animais silvestres.

Os passarinhos transportam sementes de frutos de um lugar para o outro enquanto estão se alimentando. E é por isso que as vezes nascem árvores frutíferas em lugares que ninguém nunca plantou nada. Isso acontece principalmente com frutos de sementinhas pequenas, como por exemplo, goiaba, mamão etc.

O certo é que, próximo à casa de Lua nasceu um pé de goiaba, e o pai de Lua em uma de suas costumeiras limpezas próximo a casa, percebera aquela pequena plantinha. Tinha o aspecto já de uma arvorezinha, e era muito saudável, verde e plena de vida. Lua era ainda um bebezinho quando seu pai descobrira aquela plantinha.

A mãe de Lua ia sempre com ela ver aquela goiabeira, que crescia dia após dia numa velocidade incrível, sempre viçosa, bela e saudável.

Assim, a menina Lua passou a amar aquela árvore e até conversava com ela como se a goiabeira fosse gente. A abraçava carinhosamente. As duas, Lua e a goiabeira, foram crescendo juntas.

Quando a goiabeira começou a dar frutos, Lua já havia crescido muito também, já era uma linda menininha. E toda temporada de frutos da goiabeira, a menina colhia goiabas.

Certa vez, o pai de Lua quis cortar a Goiabeira, mas a filha lhe pediu carinhosamente para não a cortar:

_ Papai, por favor! Não corte a minha goiabeira! Eu gosto muito dela. Ela é minha amiga. O senhor não vê que eu sempre brinco debaixo dela? Em suas sombras, eu faço as minhas tarefas da escola. Além do mais, eu adoro ver os passarinhos que pousam nela para comer goiabas. – disse Lua, esperando que o pai, depois de todos os seus argumentos mudasse de ideia e desistisse de cortar a goiabeira.

O pai, depois de ouvir Lua, respondeu:

_ Nossa, como a senhora Goiabeira é importante para você filha! E o que mais a goiabeira significa para você? - questionou o pai.

_ Eu adoro as suas goiabas papai! O senhor não gosta de goiabas? – perguntou, com um lindo sorriso no rosto.

_ Gosto sim! Eu sou quase um bicho de goiabas! – disse o pai de Lua sorrindo.

_ Então papai, somos dois bichos de goiabas! Porque eu também gosto muito de comer goiabas. Eu até sonho com elas! – Lua falava a verdade. Ela sonhava mesmo colhendo frutos nas goiabeiras. Talvez porque ela gostava muito mesmo de goiabas.

_ Está bem, não vou cortar a sua goiabeira. A nossa goiabeira! E enquanto nós vivermos aqui nesse sítio ela também viverá. Nós cuidaremos dela. Você e eu. Ah! E a mamãe também nos ajudará a cuidar! Combinado mamãe? – a mãe de Lua estava observando a conversa dos dois, e sorriu.

_ Obrigada papai!

- Obrigado, pelo quê?

- Por não cortar a nossa goiabeira!

 

***

Aquela linda goiabeira não era importante somente para Lua e a sua família, ela também era o lar de muitos passarinhos e borboletas. Acreditem, até as borboletas comiam goiabas da goiabeira! Os seus frutos alimentavam muitas vidas da natureza. A goiabeira vivia cheia deles. Passarinhos iam e vinham em bandos, cantarolando, somente para comerem as goiabas da goiabeira.

 

Reflexão

As árvores frutíferas são de extrema importância na natureza, porque são elas que alimentam uma infinidade de aves e animais silvestres. Não se deve corta-las.

 

Rozilda Euzebio Costa


domingo, 23 de abril de 2023

El tiempo y sus estaciones

 



Y de pronto llegó el tiempo y sus estaciones
transformando mis voluntades desde dentro de mi ser
tomando com el mis cosas viejas
que ya no tenia mas sentido tenerlas
Sí, fue el tiempo, un héroe fuerte y invencible
autor de todos los comienzos felices y esperanzadores
y de los finales de historias importantes
conocedor también de los engaños de todas las generaciones

Sí, y de pronto el tiempo fue la cura y la salvación
pasó rápidamente trayendo un montón de noticias
me dijo - no llores porque siempre paso para ayudar
y abrazó mi alma, besó mis ojos y me hizo sonreír
no hubo tiempo ni de verlo la cara y ya se había ido
como alguien que tiene tantas obligaciones por cumplir
como alguien que necesita transformar otros corazones
fue quitando mis sentimientos sofocantes y trayendo paz y emoción

¡Sí, fue él, el magnífico tiempo
Señor de todos los cambios
portador de muchos conocimientos
el iluminador de verdades ocultas
apaciguador de dolores profundos
el remedio para todo engaño
lo que trae el espejo de la verdad
y provoca en los que se equivocaron
el dolor del arrepentimiento

Rozilda Euzebio Costa

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Os gatinhos de Olga

 

Os gatos são seres muito fofos, e alguns se tornam quase humanos para alguns humanos. Existem gatos que deixam de ser pets e entram na escala de melhores amigos e companheiros.

Ah, se d. Polina não se controlasse, sua casa acabaria se tornando uma gataria só, porque sua neta passava a maior parte do tempo com ela, e era apaixonada por gatos.

Na casa de Polina já tinha três gatinhos de sua neta, Olga, uma doçura de menina, muito educada e comportada.

Olga amava a vovó Polina, e todos os dias depois de chegar de sua aula da escola, onde estudava na parte da manhã, almoçava e corria para a casa da vovó. É que, além de amar a sua vovó, lá também viviam seus gatos - Bliny, Boris e Bazhen. Eram todos castrados, porque d. Polina tinha medo de que eles fugissem de casa e Olga chorasse muito.

A mãe de Olga não queria os gatos em sua casa, porque ela dizia que tinha alergia aos pelos dos bichinhos, por isso eles moravam na casa de sua avó.

Olga já chegava eufórica na casa da vovó Polina:

_ Vovó Polina! Vovó Polina! Eu vim passar a tarde com você. – dizia Olga, muito entusiasmada.

_ E a vovó já estava esperando você! - dizia Polina, já dando-lhe um abraço.

Certa vez, enquanto brincava com seus gatinhos, Olga virou-se para a vovó Polina e fez um pedido:

_ Vovó, você compra três bolinhas para os meus gatinhos? Eles adoram brincar de correr atrás da bola, e só temos uma bolinha furada que nem rola direito, daí a bolinha nem vai muito longe.

Polina não resistiu ao pedido tão carinhoso de Olga, foi na loja de brinquedos com ela e comprou uma bolinha colorida para cada gatinho. Também comprou outros brinquedos diferentes para Olga e os gatinhos.

_ Obrigada vovó Polina, você é muito legal! - disse Olga, dando um abraço e um beijo na face da vovó.

Os avós são os segundos pais, são como anjos na vida de seus netos, ajudam em tudo na vida deles. Com Olga era assim, a vovó Polina estava sempre presente na vida dela. Quando crescesse, teria lindas memórias dos momentos que vividos com a sua avó.

Os gatinhos de Olga eram muito felizes por tê-la em suas vidas, porque ela cuidava muito bem deles.

Rozilda Euzebio Costa

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Akira e o Pé de Sakura

 


Há quem consegue ver a beleza da Mamãe Natureza, e Akiko era uma dessas pessoas, era uma garotinha cheia de luz nos olhos.


Estavam lá, debaixo do pé de sakura, Akiko e Akira:

_ Você vê? – perguntou a menininha Akiko.

_ O quê? – o Akira não estava na sintonia da natureza!

_ O pássaro olho-branco japonês no pé da sakura! São dois ou três, não sei... É tanta beleza que até o céu se pinta de azul e se curva para admirar isso, Akira! Olha que coisa mais linda! – disse ela olhando para cima, para a copa florida do pé de sakura.

Existem olhos que sabem ver de verdade, que enxergam essências! E como é bom poder contemplar a natureza.

_ Vem você também olhar, Akira! As flores é que são felizes por serem visitadas pelos passarinhos! E tem até sakura por aí cheia de ninho! Veja! Olha na ponta do galhinho, tem um ninho com dois ovinhos! E na outra galha também tem um ninho com dois olhinhos! É um passarinho que nasceu, Akira! E já já ele começará a voar devagarinho.

_ Eu não estou conseguindo ver nada! Será porquê? Porque será?! – Akira estava sendo sincero, não conseguia ver mesmo.

_ Abra seus olhos Akira! Mas antes é preciso saber amar! É necessário ter os olhos do amor para melhor enxergar. Você precisa se sentir parte da natureza, porque tudo é vida – árvore, rio, montanha, pássaros, gente, tudo é vida que a Mamãe Natureza cria. A cada um ela dá uma porção de beleza.

Rozilda Euzebio Costa

quarta-feira, 12 de abril de 2023

A Joaninha e o Alecrim



Ademais, ademais,

amor nunca é demais,

disse a Joaninha para o pé de Alecrim.

Olha para mim!

Olha para mim!

Sou felicidade pura,

trim trim, trim trim.

Um buquê de flores azuladas,

canudinhos verdes-esmeraldas,

meu Castelo Alecrim,

lugar tão belo,

eu nunca vi assim!

Você já viu?

Aqui a felicidade nunca se cansa!

Ela canta e sorri todos os dias,

comemorando o sol nascente,

aqui, a vida é fortalecida pela esperança!

 

Rozilda Euzebio Costa

domingo, 9 de abril de 2023

A Mexeriqueira


 

Certo dia, uma bougainville que tinha como vizinha uma mexeriqueira, não suportando mais a curiosidade que sentia sobre o significado do nome de sua vizinha, voltou-se para ela e perguntou:

_ Cara vizinha, porque te chamam de mexeriqueira?

Calmamente a mexeriqueira respondeu:

_ Você já viu alguém comer do meu fruto escondido?

_ Não! Porque ele exala cheiro por todos os lados! Nenhum nariz é poupado se tiver alguém comendo dele por perto!

_ Então! Eu sou como alguém que fala demais, uma mexeriqueira! E se comer do meu fruto, logo é denunciado pelo cheiro. A diferença é que o cheiro do meu fruto vem de minha natureza, e o mexeriqueiro falador, que espalha os odores das fofocas, fazem por falta de bom senso mesmo.

A bougainville compreendeu o significado do nome de sua vizinha. Ela era uma mexeriqueira e por isso espalhavam cheiros de seus frutos, era um processo de sua natureza.

Rozilda Euzebio Costa

sábado, 8 de abril de 2023

A Musa e o Poeta (A vida de um escritor do século XIX em um lindo Romance épico)

 

Apresentando o romance de época, A MUSA E O POETA

Dramas intensos, segredos do passado, amor proibido, em uma história carregada de emocionantes acontecimentos do início ao fim.

O romance "A Musa e o Poeta", traz em seu enredo a história de Giovanni Vittore di Benacci, um escritor que viveu no século XIX.

Através da literatura poética, o personagem Giovanni encontrava uma forma de fugir de sua realidade triste e solitária. Ele era um homem muito fechado em si mesmo, estava sempre sozinho, e dividia a sua intimidade apenas com seus próprios livros.

Giovanni não conhecera o pai em sua infância, e perdera a mãe ainda muito jovem. Ele teve que aprender a viver a sua vida batalhando pela própria sobrevivência.

Somente aos 42 anos de idade Giovanni experimenta o amor verdadeiro, apaixona-se pela encantadora jovem Lorenza Castellini, de apenas 19 anos de idade. Ao vê-la pela primeira vez ele logo se encanta por ela, transformando-a em sua musa inspiradora exclusiva.

O pai de Lorenza, Angelo, um homem muito rude e severo, proíbe o romance dos dois, levando Giovanni a viver intensos dramas e conflitos existenciais, chegando quase a abandonar a própria vida, por não conseguir aproximar-se de seu grande amor.

Apesar de ser ainda tão jovem, Lorenza demonstra uma mente bastante segura e madura, e uma determinação no enfrentamento do confronto com os pais para defender o seu amor por Giovanni.

Ao longo de todo o enredo, outros personagens vão surgindo, muitas coisas vão acontecendo e transformando completamente a vida desse poeta.

Rozilda Euzebio Costa

OBRA DISPONIBILIZADA PARA LEITURA NA PLATAFORMA WATTPAD

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Reciprocidade nos diálogos

Existem vários motivos pelos quais nos afastamos das pessoas, e um desses motivos está relacionado a ausência de presenças concretas e participativas nos diálogos e demais interatividades das experiências do viver.

Falar sozinho, por exemplo, pode nos levar a uma situação de isolamento, e isso não ajuda a produzir efeito positivo na nossa vida como ser humano. É importante haver reciprocidade nos diálogos e experiências em geral da vida humana.

Desde que o homem existe no mundo, existe a comunicação. Essa, vem se aperfeiçoando ao longo dos séculos, levando as pessoas a descobrirem novas técnicas na prática do diálogo, e também a importância e o seu valor nos relacionamentos de forma geral.

Para ser considerado um diálogo, é necessário que haja a fala compartilhada entre duas ou mais pessoas, uma interatividade concreta de troca de pensamentos, informações e ideias.

O ato de conversar sozinho não produz resultados que possam alcançar a troca de experiências no progresso humano, já que esse somente acontece com o compartilhamento das experiências e das ideias entre duas ou mais pessoas.

É importante observar a questão do diálogo solitário, onde o locutor tem a presença de outra pessoa na conversa, mas essa não interage, bloqueando o respaldo e o compartilhamento das informações, reduzindo com essa problemática, a evolução e a assertividade que se propunha o diálogo.

Diferentemente da escrita, que dialoga com seus leitores de forma isolada, através dos livros e textos específicos, cujos temas são voltados a um público diversificado, o diálogo solitário experimentado por uma pessoa que não recebeu nenhum respaldo ou feedback da outra pessoa presente no diálogo, esse faz com que o locutor se torne cada vez mais isolado, a ponto de se transformar em uma ilha humana, passando a flutuar no mar de sua solidão. E nenhum homem pode ser feliz sendo uma ilha.

Rozilda Euzebio Costa 

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Sandoval e Margarete (Um celular entre nós)

 

Sandoval e Margarete expõe o drama de algumas pessoas em relação à tecnologia e o modernismo, muito presente nos dias de hoje. De um lado, o desejo de provar as novidades do mundo tecnológico, e de outro, a impossibilidade financeira em realizar esse desejo. O desprovimento das condições econômicas necessárias para acompanhar essas novidades do mercado, levam muitos indivíduos a uma grande frustração em suas vidas.

Sandoval era um homem muito trabalhador e muito ligado a família, há muitos anos trabalhava como servente de pedreiro em uma construtora. Era casado com Margarete, uma mulher simples e sem muita vaidade. Eram pais de um casal de filhos biológicos. Ainda era tutor de uma sobrinha de dez anos, cujo pai era o seu irmão Francisco, que trabalhava no campo para sobreviver, não tinha estudo nenhum e era quase analfabeto, apenas sabia assinar o nome.

O casal Sandoval e Margarete não pagavam aluguel, porque o pai de Margarete lhes havia emprestado uma casa de tábuas em um bairro da periferia, bem afastado do centro da cidade.

A honestidade era uma qualidade indiscutível de Sandoval, ele trabalhava duro, de sol a sol, para manter a família. Haviam dias que a vida se tornava muito difícil para ele, porque a grana realmente ficava escassa antes de chegar ao fim do mês. Margarete não tinha um emprego que lhe proporcionasse uma renda para ajudar o marido, ficava sempre em casa lidando com os afazeres domésticos e cuidando dos filhos. Quando o marido recebia o salário, entregava todo na mão dela e lhe dizia:
_ Está aí os trocos minha véia, pague as contas e compre as coisas que estão faltando em casa, e não esquece da minha buchada de bode! – dizia ele. É que toda vez que Sandoval recebia o seu salário, dava-se de presente uma buchada de bode no fim de semana seguinte, isso já era sagrado para ele. O alimento era preparado com muito esmero pela Margarete, com temperos especiais para não desagradar de modo algum o marido. Ele adorava aquele sabor, e tinha aquele momento como sendo um momento muito especial e importante do mês. Também era somente uma vez por mês, pois o seu dinheiro não dava para comer buchada todo fim de semana.
Margarete vez ou outra, comprava um vestidinho para ela e para a Clarinha sua filha, comprava também roupas para o marido, para o filho Luís, e nunca se esquecia da sobrinha Lorrany. É claro que as compras sempre eram parceladas em muitas vezes na loja. As compras de roupas e calçados para a família eram compradas no meio do ano, e somente terminava de pagar com o 13º salário de Sandoval.

Vida dura, a de Sandoval e Margarete, mas sabe que eles eram felizes mesmo assim! Com todas aquelas limitações financeiras das quais já estavam acostumados, eles ainda conseguiam achar graça na vida, e não viam os desafios da sobrevivência como sendo um peso duro de carregar.

Sandoval não era tão atrasado em relação à tecnologia, ele e sua mulher Margarete tinham um celular “pebinha”, que lhes ajudava na comunicação à distância. Para quem não sabe o que quer dizer “pebinha”, é uma expressão para descrever um aparelho celular muito simples, que só serve mesmo para fazer ligações e mais nada. Whatsapp? Instagram? Facebook? Nem pensar! Os aparelhos pebinhas não possuem suporte para tais aplicativos. Sandoval nem se interessava por isso. Nem ele e nem a Margarete. Ambos estavam muito felizes com os seus pebinhas.

No entanto, num dia qualquer durante o verão, o amigo de Sandoval, daqueles amigos do peito mesmo, sabe? O Nandão, que também trabalhava como servente de pedreiro na mesma construtora, comprou um celular bem moderno, que pegava Whatsapp, Instagram, Facebook, e ainda fazia fotos e filmagens bonitas por demais. Isso chamou muito a atenção dos colegas no trabalho. Mas poucos sabiam, apenas desconfiavam, de que Nandão havia se atolado de prestações na loja. E era verdade! Nandão parcelou o tal celular em doze vezes, com uma prestação muito alta. Mas Nandão não tinha um “pinto para dar água”, ou seja, não era casado, não tinha filhos, e o único gasto extra que ele tinha era uma cesta básica que ele comprava para sua mãe já idosa.

No dia em que Nandão comprou o celular moderno, já chegou no trabalho todo cheio das vaidades, exibindo o aparelho para todos os outros colegas trabalhadores. Todo mundo desejou ver de perto o novo celular do colega. Aquilo foi um acontecimento extraordinário, só se via as rodinhas de trabalhadores em volta de Nandão. O Mestre de Obras, chefe da turma, ficou observando aquele alvoroço todo e resolveu dar uns alertas bem sérios para que a turma voltasse para o trabalho, porque o serviço estava sendo prejudicado por causa das novidades de Nandão.

Naquele dia ao final da jornada de trabalho, Sandoval foi para a casa com o celular de Nandão dentro de sua cabeça, bem no centro de sua imaginação criando histórias e filmes. Dizia para si mesmo – eu quero um bicho daquele para mim, vou comprar um também! Nem que eu tenha que deixar de comer as minhas buchadas. A Margarete também vai ter que fazer umas economias lá em casa. Economizando nos gastos, eu vou poder comprar um celular para mim igual ao do Nandão. – Ele estava obcecado pelo celular moderno do colega.

Depois que chegou em casa tomou um belo banho, jantou um arrozinho bem soltinho que só sua Margarete sabia fazer, com aquela carne de sol frita e umas rodelinhas de tomate. Abriu a geladeira, pegou um copo de água fresca e ficou tomando olhando fixamente para a mulher lavando as louças na pia. O que Sandoval estava pensando? O leitor nem imagina? Sandoval estava pensando em como dizer para a mulher que iria comprar um celular moderno, caro demais para o seu bolso. Ele sabia que Margarete, mulher muito equilibrada, não iria permitir de jeito nenhum, essa aquisição! Até porque, Sandoval já estava há mais de três anos com uma janela enorme na boca, lhe faltavam quatro dentes no meio da arcada dentária superior. E quando sorria largamente, via-se apenas duas presas enormes, uma de cada lado, como se fossem os esteios de um portão. Isso nunca havia sido problema para ele, pois não era um homem vaidoso. Ele se preocupava mais era em colocar a comida na mesa e não deixar seus filhos e sua esposa passarem fome. Os dentes eram segundo plano, iria cuidar quando desse.

Depois que Sandoval viu aquele bendito aparelho de Nandão e o que ele fazia, ficou atordoado, desejou mesmo ter um igual para ele. _ Poxa vida, eu mereço! Eu dou um duro danado no trabalho há anos, e não posso me dar um presente desses?! – dizia para si.

Margarete terminou de lavar as louças sob o olhar de Sandoval, ali o tempo todo pensando em como falar de sua decisão de comprar o celular novo para ela. Chegou a hora de irem para a cama dormir. Ele foi na frente, perfumou-se todo e deitou esperando a esposa vir deitar também. Ele só queria falar do tal celular para ela, mas, como já conhecia Margarete, precisava preparar o terreno para ela compreender e não brigar com ele, precisava usar também as palavras certas.

Quando Margarete entrou no quarto, Sandoval, com uma voz melosa, puxou logo assunto com ela:
_ Ô minha véia, mas como você tá tão bonita hoje! Não pense que eu não vejo a sua beleza, é que as vezes eu chego cansado demais do serviço e acabado sem ânimo para nada. – Margarete deu uma olhada desconfiada para ele, e continuou calada. Mas ele continuou, doido para conversar.
_ Minha véia, me diz uma coisa, o que é que você está fazendo que tá ficando cada vez mais linda? Você está mais linda do que quando eu te conheci! É verdade minha flor! – disse Sandoval.

Ele estava a adocicar Margarete, que, já conhecendo o marido, questionou-o:
_ Fala logo Sandoval! Eu te conheço. Quando você vem com esse negócio de me elogiar, é porque está querendo me dobrar em alguma conversa. Vamos! Diga logo homem! O que é que você está querendo me dizer? - Perguntou impaciente.
_ Minha flor, eu não posso te elogiar que você já pensa mal de mim! – disse.
_ Imagina Sandoval, eu não estou pensando mal de você, eu só estou dizendo que você está querendo me dizer alguma coisa com todo esse rodeio, e pelo jeito eu não vou gostar. – disse Margarete.
_ Está bem Marga, sabe o que é...
_ Hum, Marga, né? O que é Sandoval? – perguntou Margarete olhando de rabo de olho para ele.
_ Nandão, aquele meu colega lá do trabalho, comprou um celular porreta demais ó! O bicho só falta falar sozinho!
_ E daí, Sandoval? O que me interessa se Nandão comprou ou não comprou um celular? – Margarete fez uma cara já quase adivinhando o que estava a sair da boca de Sandoval.
_ Daí Marga, que eu estava pensando se a gente...
_ A gente o quê, Sandoval?
_ Se a gente não podia comprar um igual! Eu fiquei pensando sabe, eu trabalho tanto, eu mereço ter um celular daqueles minha véia!
_ Quanto custa esse celular Sandoval?
_ É... bem... Anh...
_ Quanto custa o tal celular Sandoval? – Margarete perguntou novamente.
_ Três mil reais. – Disse levantando as sobrancelhas.
_ Você está louco Sandoval? Você está aí todo desdentado, precisando ir no dentista fazer uma ponte fixa para colocar nessa sua janela gigante, e ainda não foi porque o dinheiro que você recebe só dá para as nossas despesas aqui de casa, e você vem me falar em comprar um celular de três mil reais, Sandoval?! Você não está raciocinando bem, Sandoval! – Margarete ficou enfurecida com o marido.
_ Droga de vida! – ele disse decepcionado.
_ Droga de vida o quê, Sandoval? É a vida que nós temos meu bem! E eu não reclamo, a gente tem que viver de acordo com a realidade e tentar ser feliz com ela! – ponderou Margarete, sempre muito equilibrada.
Sandoval não se convenceu, e até se sentiu ofendido por Margarete ter tocado no assunto dos dentes dele:
_ Olha aqui, Margarete, você não tem que se importar com os meus dentes, com a minha janela na boca! Se eu que sou o dono da boca desdentada não estou me importando, porque você vai se importar? – disse zangado.
_ Ah meu querido, você é o dono da sua boca, mas na hora de me beijar sou eu que tenho que aguentar beijar um homem banguela.
_ Poxa, Margarete, você nunca reclamou dos meus beijos! – disse Sandoval, decepcionado.
_ Nunca reclamei porque sabia que você gastava o dinheiro com coisas úteis, mas para gastar com os supérfluos, aí não dá né meu filho? – disse.
_ Pois agora é que vou comprar mesmo! Vou comprar um celular igual ao do Nandão, e vou parcelar na loja em doze vezes. Eu vou abrir mão de arrumar os meus dentes, vou deixar de comer a minha buchada e de tomar a minha cervejinha, mas vou comprar um celular igual ao do Nandão. E por um ano, não precisa comprar roupas para mim, deixe que eu me viro com as que eu tenho. Amanhã eu vou na loja para comprar o meu celular.
_ Nossa, Sandoval, como você é cabeça dura! Você prefere comprar um celular caro desses do que ir ao dentista e arrumar seus dentes! Deus me livre, Sandoval, você não está raciocinando mesmo. – disse a mulher, muito decepcionada.

A discussão parou logo em seguida e os dois, já emburrados, viraram cada um para um lado da cama e foram dormir.

No dia seguinte Sandoval cumpriu o que havia dito, chamou Nandão e foi com ele até a loja onde o amigo havia comprado o celular. E como estava com o nome limpo, conseguiu comprar o tal aparelho moderno parcelado na loja.

Sandoval saiu da loja se sentindo tão feliz e realizado que resolveu ligar logo para Margarete, que ainda estava aborrecida com ele, mas ele estava tão radiante de felicidade que as brigas da mulher se tornaram engraçadas para ele. Quem olhava aquele homem em pé, parado na calçada da rua falando ao celular e dando gargalhadas de felicidade com a sua boca banguela, mostrando uma janela imensa na arcada dentária superior, não compreendia por qual razão um homem prefere adquirir um objeto caríssimo só porque “todo mundo tem um”, e deixa de cuidar da própria saúde física. Era um contraste entre a aparência e a realidade que estava por trás dela.

Muitas vezes, o que as pessoas mostram para a sociedade, não condiz com a realidade que elas vivenciam em seus quotidianos. São duas realidades paralelas – a que é de verdade, e a que as pessoas gostariam de viver – assim, os contrates entre vida maquiada e vida real, vão se chocando entre dias do ser humano.

Ao vencer a primeira prestação do celular, Sandoval já se apertou, pois o dinheiro não deu para arcar com as despesas de casa e pagar a prestação da loja. Houve intermináveis discussões em casa, porque Sandoval acusava a esposa de não ter economizado nos gastos do supermercado para sobrar o dinheiro de pagar a loja. E Margarete, se magoou muito com o marido, pois o preço das coisas é que tinha aumentado no supermercado, ela tinha feito de tudo para economizar nas despesas, mas ele a acusava de não ter ajudado nas economias.

Por amar muito o marido, Margarete resolver correr atrás de ajuda para socorrer ele, tentando conseguir um meio de ele ganhar um dinheiro extra. Ela falou com uma amiga sua que trabalhava para uma família de um bairro nobre, e esta deu-lhe uma informação de grande importância. Os patrões estavam precisando de um trabalhador para limpar um terreno. Foi aí que Sandoval conseguiu pagar a primeira prestação de seu celular moderno. Com isso ele perdeu a folga de um final de semana, porque teve que fazer este extra, mas pelo menos conseguiu honrar o seu compromisso na loja.

Já as próximas prestações, essas iriam trazer novos desafios para Sandoval e Margarete, e ela já estava ficando com uma pulga atrás da orelha com Sandoval por causa de um tal de Zap.

Não é à toa o ditado que que diz, que um bom observador é capaz de aprender muito mais do que aquele que lê com os olhos, enquanto a mente está a ver navios. Existem pessoas que aprendem muito mais na observância do que alguém lhes ensinando. Também há aquele ditado que diz que, se você não aprende em casa a vida vai lhe ensinar, vai de encontro a um aprendizado baseado na experiência e na observância do viver.

Nos dias de hoje, em que o consumismo vem crescendo cada vez mais, de forma assustadora, há uma desigualdade social muito latente e visível na sociedade. Mas no que tange exclusivamente à tecnologia, o consumismo avançou e derrubou barreiras diversas, inclusive a barreira do bom senso. Uma grande parcela da população mundial deixa de investir em saúde e conforto para adquirir bens de última geração. Os produtos tecnológicos subiram à cabeça das pessoas. Parece que a coisa mais importante é estar sempre competindo na aquisição de tecnologias modernas, é também ter um carro modelo novo e revolucionário, é ter um celular de última geração, ou até mesmo, vestir-se com a última tendência da moda porque todo mundo está vestindo.
O consumo consciente ainda é um desafio para o ser humano, e está longe de ser aderido na sociedade.

Rozilda Euzebio Costa

domingo, 2 de abril de 2023

O amor não se dobra a conveniências

 

Em uma pequena cidade localizada na região Nordeste do Brasil, perto de um conjunto de montanhas belas e imponentes, vivia um homem cuja idade já ultrapassava os 40 anos e levava uma vida bem solitária, sabe. E nem passava pela sua cabeça, o pensamento de arrumar uma esposa para lhe fazer companhia em seus dias de solidão. Isso era o que todos os seus conhecidos de lá, pensavam até então.

Bem, esse homem se chamava Lucius, e era um moço muito bem apanhado em sua alta estatura. A sua pele era clara e com sardas concentradas principalmente em seu rosto. O moço tinha olhos castanhos e enigmáticos que atraiam todas as moças daquela região. Seus cabelos já estavam um pouco grisalhos, e a barba sempre por fazer. Ele gostava de manter a sua barba grande, porque ela lhe dava um ar de poder em sua aparência rústica e misteriosa.

Naquela pequena comunidade também vivia um sacerdote muito amigo de todos. Era o Pe. Caio. Pastor cuidadoso de suas ovelhas, se preocupava com cada uma delas. Ele vivia naquela comunidade há mais de dez anos, participava da vida de cada morador e já havia batizado muitas crianças e oficializado incontáveis casamentos em sua paróquia. Todos, até então, permaneciam intactos, coroados com a felicidade e as bênçãos de Deus.
O Lucius era uma ovelha muito especial para o Pe. Caio, porque ele sempre o ajudava na paróquia, inclusive fornecendo verbas para a manutenção da mesma. O padre sabia tudo sobre a vida de Lucius, e por isso, não compreendia o porquê de Lucius não encontrar uma boa mulher para se casar, pois sempre ouvia da comunidade muitos falatórios sobre moças que eram desejosas de se tornar a esposa de Lucius.
Porém, o tempo foi passando e os cenários e circunstâncias foram mudando para Lucius. Um dia, Pe. Caio percebeu que seu amigo estava triste e bastante pensativo. Assim, supôs que a causa de tal sofrimento era a falta de uma esposa. O padre decidiu ter uma conversa com Lucius, mas antes da tal conversa, tomou conhecimento de todas as candidatas possíveis a se tornar a esposa de seu amigo e servo querido. Iria arranjar uma esposa para Lucius a todo custo.
Já decidido, Pe. Caio mandou chamar Lucius na paróquia para conversar. Ele prontamente atendeu seu chamado. Os dois sentaram em um dos bancos próximo ao altar da Igreja e começaram a dialogar:
_ Lucius, meu amigo, como está a sua vida? – perguntou o padre.
_ Pe. Caio, eu estou bem. O senhor me chamou aqui, o que há de urgente? – perguntou Lucius, ávido para saber o real motivo daquele convite.
_Sim filho, eu chamei. Tenho um assunto de grande importância a tratar com você. – disse o padre.
_ Então fale padre! Estou aqui para isso. Não vai me dizer que vão transferir o senhor daqui para outra cidade! – Lucius imaginou que aquela conversa poderia ser um anúncio de despedida.
_ Não Lucius! Não é nada disso. A questão é o seguinte, você precisa se casar, e logo! – Pe. Caio falou sem rodeios, indo diretamente ao ponto.
_ Casar?! Ficou doido padre?! Ah, desculpe padre. O senhor me desculpe a expressão. Não quis falar assim com o senhor, mas é... é que... Eu nunca havia pensado nisso, sabe! Imagine o senhor, que um casamento é uma coisa muito séria! Além do mais... – Lucius silenciou.
_ Além do mais... o que meu filho? Falta de candidatas não é. Tem a Flaviana, a Henriqueta, a Gabriela, a Tereza, a Elda, a Aninha, a... aquela... como se chama mesmo? A filha do prefeito, que estudava fora e retornou para cidade há poucos dias? – Lucius interrompeu o padre:
_ Eu não acredito padre! Onde o senhor conseguiu arranjar esse tanto de candidatas para se casar comigo?! Quem são essas moças?! – perguntou Lucius, bastante surpreso com as revelações do padre.
_ Ora Lucius, por favor! Confie em mim! Eu sei que todas elas são apaixonadas por você. O que não lhe faltam são candidatas para ser sua esposa. Eu só quero ajudar você a ser feliz, meu filho! Quero te ajudar a ter uma família. Eu me preocupo mesmo com você. E sabe de uma coisa, eu tenho o sonho de celebrar o seu casamento! – disse o padre, no intuito de convencer Lucius.
_ Padre, padre... Ouça bem o que vou lhe dizer – só me casarei por amor. Por amor! Entendeu padre? Essas moças podem até ser apaixonadas por mim, mas eu não as amo, entende? Eu quero me casar com uma pessoa que eu realmente ame com toda a força do meu coração. Que me faça sentir a vontade de continuar vivendo e construindo a minha vida. Que me encha de entusiasmo a cada amanhecer. Que me faça desejar ter filhos, gerar vidas, deixar minha descendência, e também, que deixe o meu coração mais leve. Sabe padre, casar não é só escolher uma bela companhia e levar para o altar, tem que haver muito amor. – disse Lucius, expondo seu ponto de vista ao padre.

Depois de todas essas declarações, Pe. Caio imaginou que talvez Lucius já tivesse uma candidata que ninguém ainda havia descoberto. Um amor secreto. Resolveu questiona-lo:
_ Lucius...
_ Pode falar padre!
_ Você tem alguma moça em mente, com quem gostaria de se casar?
_ Como assim padre, alguma moça? Que moça?!
_ É isso que eu quero saber, meu filho! Que moça, filho?!
_ Padre, na verdade eu amo uma moça sim, mas... – Lucius silenciou e o padre, com toda a sua curiosidade aflorada, perguntou com ânsia:
_ Diga Lucius! Diga, meu filho! Quem é essa moça e o que o impede de falar sobre ela? Não me deixe nessa agonia!
_ Sabe padre, ela é...
_ Vamos! Fale logo! Fale de uma vez homem! – Pe. Caio já estava a ponto de dar uma parada cardíaca de tanta curiosidade.
_ É Lívia. Pronto, falei.
_ Meu Deus! Lívia?! Aquela mulher que tem um filho que ninguém sabe ainda quem é o pai? Aquela que trabalha na casa da Sra. Margarida? Aquela que já tem quase a sua idade?! – não era que o padre tivesse preconceito, mas também não compreendia porque Lucius se apaixonara por uma mulher que ninguém prestava atenção, uma mulher muito independente, que cuidava sozinha do filho e não dava satisfação de sua vida a ninguém. Lívia tinha quase a idade de Lucius. O padre imaginava uma esposa mais jovem e que pudesse dar muitos filhos a Lucius.

Lucius não gostou nem um pouco do espanto do padre Caio e falou:

_ Pare com isso, padre! Porque essa cara de espanto? O senhor não entende! É a Lívia que eu amo! Nunca disse isso para ninguém, mas agora o senhor sabe da verdade. Desde a primeira vez que a vi me apaixonei por ela, e nunca mais deixei de pensar nela um dia sequer. Padre, a vida é mesmo assim, o amor não se justifica pela vontade do homem, mas sim, pela vontade de Deus. O senhor como um sacerdote sábio deveria saber que Deus possui uma maneira muito especial de nos fazer feliz, de nos ensinar a amar e aprender com as pessoas que Ele coloca em nosso caminho. Eu chamo o meu amor por Lívia, de destino. O fato de nos apaixonarmos por pessoas que nunca imaginávamos amar, é destino. Amei Lívia desde o primeiro dia que a vi, e tenho certeza, ela é a mulher da minha vida. – Concluiu Lucius.
O padre ponderou, mas queria mesmo era casar Lucius com uma das filhas de seus paroquianos amigos, isso ficou claro em suas palavras a Lucius:
_ Talvez você esteja certo filho, mas não me conformo. Não me conformo mesmo. Se ao menos tentasse conhecer melhor a filha do Sr. Juarez, aquela moça tão meiga. – Padre Caio foi interrompido.
_ Padre! Ouça bem, não é esse tipo de vida que eu desejo viver! Não posso inventar um amor por alguém! Eu sei que o senhor deseja o melhor para mim, mas eu não me casarei se não for por amor. – disse Lucius.
_ Desculpe meu filho. Você tem razão. Eu é que estou sendo crítico e preconceituoso mesmo. São os pecados da minha mente ainda em evolução. Talvez, mesmo você não sendo um sacerdote como eu, tenha uma alma mais evoluída que a minha. Estou errado, e até começo a me sentir envergonhado por suas palavras. Não se deve mesmo forçar um casamento sem amor, porque isso somente lhe causaria sofrimento na vida. Além do mais, Lívia é uma boa mulher sim! Nunca a vi se comportando de forma errada. Porque você não pede logo a mão de Lívia em casamento? Eu realizarei a cerimônia com muita alegria. – O padre caiu em si e acabou concordando com o pensamento de Lúcius.
_ Sabe padre, eu até gostaria, mas nunca tive a coragem de dizer a ela que eu a amo. Temo que ela não acredite em mim. Ela é uma moça muito sofrida, sabe padre! Ela foi enganada pelo pai do filho dela. Ele a fez sofrer muito...
_ Mas, porque ela não acreditaria no seu amor, meu filho? Você precisa tentar, entende? Tentar! – aconselhou o padre.
_ Estou procurando coragem. Quando encontrar essa coragem, a pedirei em casamento, o senhor vai ver. Tem mais uma coisa que quero lhe dizer, esse casamento será o casamento mais bonito que o senhor já terá celebrará aqui em sua paróquia. – disse Lucius com entusiasmo.

A vida de Lucius continuou na mesma rotina por mais algum tempo, com a diferença de que as palavras de conforto e esperança que Pe. Caio lhe transmitia o deixava mais confiante. Já que agora, o padre já sabia de seu amor por Lívia.
Padre Caio vez ou outra procurava aproximar Lucius de Lívia, e aos poucos percebia uma mudança no humor de seu amigo. Sentia que Lívia parecia realmente ser a mulher do destino de Lucius, inclusive, já estavam se tornando bem mais próximos um do outro. Isso já era uma grande esperança para que se cumprisse o destino dos dois, que era a união em um casamento muito feliz.

O tempo foi se passando muito rápido, Lucius e Lívia já estavam cada vez mais próximos, já namorando e vivendo um relacionamento sereno. Foi então que Lucius viu que já era o momento certo de tomar a decisão do casamento. O moço tomou coragem e pediu Lívia em casamento. Para a sua alegria, ela aceitou de imediato, e pela primeira vez, revelou a ele que já o amava muito antes de Lucius se declarar para ela, que era apaixonada por ele desde quando o viu prestando serviços voluntários à paróquia onde Pe. Caio era o vigário. Disse que o admirava, gostava de seu bom humor, coisa que ela valorizava muito em uma pessoa. A certeza de que ele era o homem de sua vida foi tão forte, que ela soube desde o primeiro momento em que o viu pela primeira vez, sabia que havia encontrado o seu verdadeiro amor, o homem do seu destino. Ela sabia também que era somente uma questão de tempo para se unir a ele pelos laços do verdadeiro amor.
Assim, Pe. Caio finalmente concretizou o seu maior desejo – o de celebrar o casamento de Lucius, para que ele finalmente formasse a sua própria família e não vivesse mais tão sozinho.

Rozilda Euzebio Costa

sábado, 1 de abril de 2023

A história de Miniava

 

Essa historinha é de Miniava, uma formiguinha muito, mas muito curiosa mesmo! Tanto, ao ponto de questionar sobre tudo. O tio Max era quem mais era questionado por Miniava, pois já estava aposentado e não saia mais para cortar folhas fora de sua colônia. Assim, tio Max passava o dia inteiro cuidando das formigas pequenas, para que seus pais pudessem sair em grupos para o trabalho de cortar folhas.


Vamos ler essa historinha contada pela própria Miniava?

 ...


 _ Bem, eu me chamo Miniava, e sou uma formiguinha que tem o maior orgulho de ser uma formiga. E eu digo que tenho muito orgulho da minha espécie, porque tem formiga que não gosta de ser formiga, mas eu gosto!

Algumas amigas da minha mãe, por exemplo, gostariam de ter nascido borboletas! Imaginem que elas pensam que as borboletas são mais charmosas do que as formigas só porque possuem asas grandes e coloridas nas costas! Bobagem isso. Coisas de formigas que vivem tendo crise de identidade.

Também, elas imaginam que voar com aquelas grandes asas deve ser uma coisa muito legal. Já ouvi muitas delas conversando com minha mãe sobre isso.

No entanto, se eu fosse uma formiga já adulta, eu diria a elas que nós não precisamos de asas para voar, basta termos uma mente imaginativa e criativa. Mas eu não sou ainda crescida o suficiente para dizer isto a elas. O problema é que elas não conseguem imaginar nada, tudo que elas conseguem fazer é acordar cedo e entrar na fila do trabalho para cortar e carregar folhas o dia inteiro, e ficar reclamando da vida umas para as outras pelos caminhos. Foi mamãe quem disse isso certa vez!

Mas eu não vou gastar toda a minha história falando dessas formigas que gostariam de ser borboletas e bla bla bla, bla bla bla.

Eu poderia começar contando sobre os diversos perigos que eu já tive que enfrentar para sobreviver nessa minha vida de formiga jovem. Eu teria muito o que contar, com certeza! Como por exemplo, o dia em que eu caí num buraco enorme, feito pela pata de um monstro gigante que os humanos chamam de cachorro.

Mamãe tinha saído bem cedo para trabalhar e eu desejei conhecer melhor o mundo fora da colônia. Nós, formigas crianças, não podemos sair da colônia porque é muito perigoso. E o Tio Max é quem cuida de mim e de outras formiguinhas.

Por ser já um pouco velho, e estar aposentado de sua lida de cortador de folhas, Tio Max não precisava mais trabalhar, então ele ficou responsável de cuidar das formigas pequenas das famílias da colônia.

Naquele dia eu consegui passar por Tio Max sem ser percebida! Enquanto ele olhava sua mais valorosa relíquia, um relógio de formigas, uma joia que lhe custou dias inteiros de trabalho, eu passei silenciosamente por ele sem ser percebida, e fui dar uma volta nas redondezas.

Era a primeira vez que eu conhecia o mundo lá fora da colônia! Vi tanta coisa linda! Vi os raios do sol da manhã refletirem nas gotas de orvalho pousadas sobre as folhas das plantas, e isso fazia parecer um monte de espelhos. Fiquei encantada vendo o meu rosto de formiga quase jovem nas gotas de orvalho. Eu gastei um enorme tempo ali, olhando o meu rosto naqueles espelhos.

Depois de ter me distraído por algum tempo, imaginei que mamãe já deveria estar quase voltando de sua primeira viagem do dia. Sai correndo e cai num imenso buraco. Comecei a gritar feito uma desesperada – socorro! Socorrooo! Alguém aí? Ajude-me, por favor! - Quando já estava muito cansada de lutar pra sair do buraco, ouvi a voz do Tio Max que já estava a me procurar com desespero, achando que nunca mais iria me encontrar. Ele me ajudou a sair dali e, tive que ouvir seu enorme sermão, lógico! Afinal eu tinha cometido um ato de desobediência.

Eu vivi muitas outras aventuras durante esta minha transição da infância para a minha fase jovem de formiga. Foram muitas aventuras, mas, deixa pra lá, outro dia eu conto, porque eu quero mesmo é falar da escolha que eu fiz pra minha vida, através do bom exemplo de minha mãe.

Recordo-me de ser ainda muito criança. Morávamos em uma grande colônia formada por várias famílias de formigas, mas na minha casa éramos somente eu e mamãe. Meu pai e meus dois irmãos, haviam se perdido na floresta durante uma expedição extra em busca de comida. Foi durante um inverno muito rigoroso. Eles saíram juntamente com outras formigas que foram selecionadas para esta missão. Mas eles nunca mais voltaram...

Em nossa colônia todos trabalhavam duramente para manter o nosso alimento. Todos os dias eu via minha mãe chegar de sua lida diária, carregando enormes feixes de flores coloridas para a nossa casa.

Eu achava aquilo muito estranho, afinal, todas as outras formigas da nossa colônia carregavam folhas e frutos! Mas a minha mãe não! A minha mãe só carregava flores. Haviam dias que a nossa casa ficava toda perfumada com aroma de rosas.

Eu sentia vontade de perguntar a ela o porquê, de ela trazer somente flores para a nossa casa, porque nós não comíamos flores! Afinal - eu imaginava – para que servem as flores? - mas eu tinha muito receio de magoá-la com tal pergunta, já que mantínhamos uma disciplina comportamental em casa.

Muitas vezes a vi presentear nossos vizinhos com flores, e em troca dessa gentileza eles nos davam folhas e frutos para nos alimentarmos. Sempre que a nossa dispensa ficava vazia, mamãe juntava algumas flores e saia na vizinhança trocando por folhas e frutos.

Passou-se algum tempo até que um dia, depois de já ter crescido um pouco mais, achei que já poderia fazer tal pergunta a mamãe, e arrisquei:

_ Mamãe, eu não entendo porque você enche a nossa casa de flores, e nunca traz comida. Sempre temos que depender da caridade das outras formigas para nos alimentarmos! – questionou-a com muito receio.

_ Ah Miniava! Minha querida formiguinha. Eu já sabia que um dia você me faria essa pergunta! – disse a mãe com um semblante sereno, deixando Miniava mais tranquila.

_ Desculpe mamãe! É que eu não entendo! A senhora passa o dia inteiro trabalhando duro, carrega estas flores que nem servem para nos alimentarmos! – justificou Miniava.

_ Minha filha, você não sente esse perfume de flores, esse aroma suave e doce dentro da nossa casa?

_ Sim. Claro que eu sinto! A nossa casa é a única casa que está sempre perfumada!

_ E você já observou também que a nossa casa é a mais colorida e a mais bonita daqui da colônia?

_ É verdade mamãe! A nossa casa está sempre enfeitada com as flores que você traz, mas... – Miniava foi interrompida pela mãe.

_ Minha querida, veja bem; se todas as formigas trabalhassem apenas para alimentar o corpo, qual seria a graça de viver? A vida não é feita somente de comida! A vida também é feita de cores, flores e perfumes minha filha! Os nossos olhos precisam ver a beleza das flores e contemplar com alegria suas cores! Temos que deixar a nossa casa mais alegre, e as flores a deixam mais alegre! Você não acha? - questionou a mãe.

_ Acho mamãe. A nossa casa é bonita e alegre. – Concordou.

_ Então minha filha, o meu trabalho não é em vão. É um trabalho de grande valor também! Carregar flores também é um trabalho que alegra a vida de outras pessoas. As flores que eu carrego duramente todos os dias servem para alimentar de alegria a nossa vida e a vida dos nossos amigos aqui da colônia.

_ Desculpe mamãe! Eu não quis dizer que o seu trabalho não tem valor, eu apenas não o entendia.

_Eu sei Miniava. Mas eu quero que saiba filha, que todo trabalho tem o seu valor, e também tem a sua razão. A vida é assim mesmo, enquanto alguns trabalham para alimentar o corpo, outros precisam trabalhar para alimentar a alma. Depois, juntamos todas as nossas necessidades e compartilhamos tudo o que temos uns com os outros. E sua mãe, Miniava, compartilha flores.

_ Mamãe, eu te amo por isso! E quando chegar a minha vez de trabalhar, eu também vou ser como você - uma formiga que carrega flores!

_ Também te amo minha formiguinha linda. Você foi o melhor presente que a vida me deu. Por você, eu carregarei flores por toda a minha vida.

... 

 

Daquele dia em diante, passei a observar os gestos de mamãe e a importância do seu trabalho de carregar flores.

 

Reflexão

Toda a ação que favorece o bem-estar de alguém é um trabalho, e tem o seu valor e a sua importância.

 

 Rozilda Euzebio Costa

 


Maturidade

  M A T U R I D A D E Se começa a crescer na maturidade a partir do momento em que se consegue extrair aprendizados das experiências vividas...