sábado, 30 de abril de 2022

Macel, o lobo Guará



Aqui a história não é minha nem sua,
nem do cordelista, é do lobo Macel!
Aquele da pele amarronzada e das patas escuras,
da pisada leve como uma folha de papel.
Ele era veloz como os ventos da tempestade,
corria em linha reta ou torta, na velocidade de um corcel.
Pois é! Esse era o lobo Macel!
Tinha um valor danado no Cerrado,
embora não gostasse de multidão,
porque era por natureza solitário,
com ele não tinha nada de errado,
era seu jeito de ser e de viver,
natureza dos bichos, sabe?
Não era porque queria se esconder.
Durante o dia dormia bastante,
a noite ele se jogava na macega 
quase ninguém o via,
hábitos noturnos, compreende?
Era aquele momento de vida solta,
de liberdade de viver em plenitude,
o que a vida para a sua espécie transcende.


Rozilda Euzebio Costa
30/04/2022

terça-feira, 26 de abril de 2022

Amora

 

Acreditar para conquistar - esse era o slogan mais usado pela doce e dedicada Amora. Ela carregava consigo uma boa dose de alegria e autoestima, mas não tinha sequer uma gota de precaução, falava de seus planos para todos os flamingos do Lago Pink.

_ Espere um pouco! Por que chamar o tal lago de Pink, se na verdade ele era azul? - d. Blanca, a cegonha, perguntou. Eu tive que parar o raciocínio da história para lhe dizer, que o lago se chamava, Pink, devido ao grande número de flamingos rosas que ali passavam o verão, quando as águas do lago ficavam mais baixas, com isso surgiam mais alimentos para eles.

Mas essa historinha é de Amora, para contar um pouco sobre ela e sua mania de ficar contando seus planos para toda a revoada de flamingos, inclusive para as fofoqueiras do bando, Colete, Allegrete e Elisabete. As três coletavam informações sobre os planos e sonhos de Amora e espalhavam por todo o lago, e nada dava certo na vida da doce ave. Ela acreditava que suas amigas lhe eram fiéis, mas as coisas não eram bem assim. Aquelas três morriam de inveja de Amora.

O que acontecia com Amora, acontece praticamente com todo ser vivo. Todo mundo quer sempre compartilhar com os outros suas expectativas e experiências, porque às vezes os desejos e as expectativas são tão grandes que transbordam da boca para fora. Mas como já diziam os antigos, "Guarde seus planos somente com você, não os espalhem aos quatro ventos", um alerta, já que, quando se compartilha planos e sonhos, dá-se aos outros o direito de opinar, criticar, provocando uma mudança de ideias e de energias.

No entanto, mesmo com tantos percalços, perdas de sonhos e de projetos, após muito tempo de decepções, Amora conseguiu realizar um de seus sonhos, a de se tornar uma grande bailarina! E não é que ela também conseguiu encontrar um flamingo para dividir seus dias com ele! Os dois construíram um ninho e foram muito felizes juntos.


Rozilda Euzebio Costa

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Gatonis Lau - Literatura Infantil

Se é pra falar de gato, então será do Gatonis Lau, o gato mais fofinho da Rua Amaral, no Bairro Bragantina, na cidade Venceslau.

Todo dia, assim que escurecia, de sua casa Gatonis Lau sumia. Pra onde ia? Ninguém, mas ninguém mesmo, por lá sabia.

No entanto, se podia ter uma ideia, tendo em vista toda aquela ração que sobrava em sua vasilha, mas ninguém podia ter certeza de nada, já que de seu sumiço nada se sabia, e Gatonis mesmo deixando ração na vasilha, nunca emagrecia.

Porém, essa falta de informação das andanças do gato fujão, era somente os humanos que não a tinham, porque a Comunidade das Corujas Madrigais tudo dele sabiam.

_ Gatonis Lau é terrível! - disse o gato Lambão ao grupo de gatos reunidos no galpão, enquanto discutiam estratégias para proteger a ração que desaparecia de suas vasilhas toda vez que anoitecia. Era ele, Gatonis Lau que as comia.

_ Tem que se encontrar um jeito de parar esse sujeito! Será possível que ninguém aqui sabe defender seu pleito?! - bradou o gato Kleito, batendo a pata em seu peito.

_ Eu vou ser sincero, esse gato é muito cara de pau! - disse o gato Severo, referindo-se a Gatonis Lau.

_ Ele vem sempre na surdina e ninguém consegue pegá-lo, só quem viu ele uma única vez foi a gata Serafina. Lembra Serafina? - disse o gato Gervão, esperando de Serafina a confirmação.

A reunião durou o dia quase todo no galpão, e os gatos estavam todos caindo de sono, tinha gato já dormindo de pé, outros, esticados pelo chão enquanto ainda falava o gato Tristão, presidente daquela Corporação. Tristão era o presidente dos Gatos do Bragantina, eleito com quase cem por cento dos votos na última eleição.

Enquanto Tristão ainda falava, avistou Gatonis Lau caminhando por cima do muro do galpão, e agitado gritou:

_ Acordem seus dorminhocos! É ele! É ele! O gato comilão, que toda noite come a nossa ração! - gritava Tristão com muita indignação. Mas a gataiada estava muito sonolenta e teve gato que nem acordou, mesmo com todo aquele alvoroço, continuaram dormindo esparramados pelo chão. Tristão quase infartou, enquanto Gatonis no muro passou.

Assim, nada se resolveu da problemática situação, e Gatonis Lau toda noite sumia, enquanto que, os outros gatos da rua ficavam sem ração, porque Gatonis Lau as comia com sua fome de leão, e depois, quando amanhecia o dia, ele voltava para casa, para dormir confortável no seu fofo colchão.

 

Rozilda Euzebio Costa

sábado, 2 de abril de 2022

Chico Serafim (o Bunitin)

 

Aqui nessa história se fala de Chico Serafim, apelidado de Bunitin! Porquê?! Ora, porque era considerado o caboclo mais bonito do Sertão de meu Deus, lá pelas bandas do Riacho da Égua!

O Bunitin era a sensação das moçoilas, das donzelas e até das mandrágoras selvagens da beira do Brejo do Sapo. Falar de Bunitin é resgatar toda a história do galã que ele foi em sua época de juventude, daqueles cabelos lambidos na testa a custa de azeite de mamona.

Todos os fins de tarde lá no Sertão do meu Deus, o galã Bunitin chegava da lida, pegava sua toalha dura de sujeira, pendurada no arame, feito carne de sol seca, e descia muito depressa para tomar o banho no rio e lavar as suas virilhas, tirar os grudes do sovaco para ficar cheiroso de noite na vendinha do Mané Farinha, onde sentava na mesa do terreiro, e debaixo da lua trigueira e prateada no céu, bebia sua cachaça de alambique, produzida artesanalmente por Pitolomeu, um fazendeiro vizinho, plantador de cana e dono do, Alambique Te Segura Senão Tu Cai. A cachaça era potência pura, e muito apreciada pelos moradores da região.
Por aquelas redondezas as moçoilas se engalfinhavam por causa de Bunitin! Tinha a Maria do Crochê, filha do Mané Farinha e de d. Leôncia, e a Liana, filha do Barnabé e da Mariquinha, que viviam de puxar os cabelos uma da outra por causa do sujeito. Diziam por lá que, as duas, viviam disputando qual delas se casaria com o galã Chico Serafim, o tal, “Bunitin”, o moreno de cabelos lambidos na testa e de canelas finas de dar dó. Aqueles olhos negros e grandões dele, dizia a Amélia, filha do Agripino e de d. Ema, eram a sensação das noites de festas no terreiro da vendinha do Mané Farinha.

Mas quiçá por qual razão, se foi o destino ou alguma simpatia feita por uma das moçoilas apaixonadas por Chico Serafim, ele se embrenhou nas matas e foi viver que nem bicho do mato, não escolheu nenhuma delas para se casar e formar com ele uma família. Bunitin foi viver solitário no meio da floresta. Teve até quem jurasse que ele se tornou o lendário Pai do Mato daquele lugar. Teve até caçador que nunca mais pisou os pés na floresta para caçar, com medo de Bunitin.

E assim, termina aqui essa história que muito foi contada lá nas bandas do Riacho da Égua, onde viveu por um certo tempo, o galã Bunitin, caboclo muito desejado, mas que deixou todas as moçoilas a ver navios para ir morar com os bichos do mato.


Rozilda Euzebio Costa
02/04/2022

Dr. Cágado Boris (O médico do Parque Saint Germain)

Conto Infantil. Literatura Infantil
Todas as manhãs no pequeno lago do Parque Saint Germain, era um tremendo dramaço. Isso porque o médico dos bichos do parque era um cágado! Imaginem só a demora na fila de espera para ser atendido pelo Dr. Cágado Boris! Jurema, a ema, era a que mais reclamava da espera, mas havia também o Zé Bacalhau que reclamava muito. E antes que alguém pergunte, não, ele não era um peixe, era um lagarto com cheiro de bacalhau, daí o apelido, Zé Bacalhau.

Certo dia havia uma fila imensa de bichos para se consultar com Dr. Cágado, o sol estava quente de rachar a moleira, não havia uma tenda sequer para apaziguar a quentura do sol, e nada da assistente do médico, d. Bolinha, chamar os pacientes.

Bolinha era uma capivara muito educada e prestativa. Os bichos tinham por ela o maior respeito. Ela sempre organizava a fila e servia água para todos com gentileza, mas naquele dia d. Bolinha não serviu água para ninguém.

_ Alguma coisa está acontecendo - disse o castor Nestor.

_ Certamente o doutor não veio hoje! - disse o chimpanzé André.

E o tempo foi passando, era já quase hora do almoço, quando o Dr. Cágado apareceu na porta de sua clínica, e diante de toda a multidão na fila, soltou seu brado:

_ Minha gente, tenha pena e tenha dó, será que um médico não tem direito a um minuto para si só? Estou estressado e estou cansado, preciso dar um mergulho no lago, antes que minha paciência dê um nó e me leve embora deste lugar para as terras do Borogodó! - disse o doutor demonstrando imensa impaciência.

_ Mas doutor, o senhor é o rei da paciência, como pode se perder no labirinto do estresse dessa maneira?! - gritou do meio da fila o escorpião João.

_ Para você vê, que paciência tem limite até para um cágado! A gente se cansa também! Estresse é um trem que vêm do muito afazer e do muito preocupar-se. Eu me preocupo com a saúde de cada um de vocês. O furão Sebastião nunca melhorou a ferida do nariz, isso me deixa infeliz! Se me dão licença, vou ao mergulho. Hoje não tem atendimento.

A bicharada foi toda embora para suas casas, não reclamaram mais, porque entenderam que até o médico se cansa e também adoece.


Rozilda Euzebio Costa

Cinzas da vida

  Um homem de vida cinza e vazia, perdido em pensamentos que também estão cinzas, aqui estou eu na palidez da vida, olhando para esse tempo ...