sábado, 8 de agosto de 2020

Quando o sol se põe



Quando o sol se prepara para se pôr no horizonte, começa em mim um sentimento de adeus, de despedida. E me vem uma imensa vontade de pedir que ele não se vá. Mas do que adianta pedir? É inevitável! Ele se vai, porque precisa ir. 

No entanto, mesmo contra a minha vontade o sol se vai, e permaneço às margens de minha insegurança e necessidade dele, como se ele fosse a minha garantia de sobrevivência no mundo em que habito.

Vou acompanhando com os meus olhos a sua ida quase imperceptível diante dos meus olhos compridos e tristonhos pelo natural adeus, como se aquele fosse um adeus definitivo.

Seus últimos raios deixam em mim um traço de nostalgia, e uma sensação de fim invade todas as vias da minha mente, desabando no coração, como um peso insuportável para carregar.

E por algum tempo os meus olhos o acompanham, até que ele desapareça totalmente no horizonte, e a escuridão ganha o seu espaço. Naquele momento sou tomada de uma angústia inexplicável, como se o sol fosse uma pessoa importante demais na minha vida para que eu o deixe partir.

A escuridão começa a se espalhar como espalham as nuvens pesadas e escuras das terríveis tempestades. Mas a escuridão que chega não chove chuva, a escuridão que chega por completo faz chover estrelas brilhantes no céu.

Quando olho para aquele céu carregado de estrelas brilhantes, a nostalgia do sol vai embora, e uma janela no meu coração se abre para as estrelas. Logo um novo desejo nasce dentro dele, o desejo de sonhar, e sonhar...

E depois de tantos sonhos sonhados, acordo com raios querendo entrar pelas frechas da minha janela. 

Mas o que será? O que será?!
É o sol que acabou de voltar! 
Ele voltou! Ele voltou! 
E nunca mais vai me deixar. 

É razoável pensar que toda despedida causa uma espécie de sufocamento nos sentimentos que se acostumaram com a presença daquele que parte, e, das coisas boas que se vão da nossa vida. 

Quando alguém nos diz adeus, pode não ser para sempre, pode ser apenas uma pequena ausência para uma renovação de estruturas, porque na vida nada permanece igual e imutável, na vida tudo se transforma de uma maneira que, às vezes percebemos e aceitamos esta transformação com serenidade, às vezes lutamos ferozmente contra o inevitável, numa perda preciosa de tempo, e às vezes não aceitamos nunca, seguindo jornadas paranoicas, em um confrontamento acirrado com as mudanças inevitáveis, vamos nos mergulhando cada vez mais em um sofrimento desnecessário. 

A compreensão e aceitação de uma separação de pessoas queridas, ou do desapego com coisas que já não podem mais fazer parte da nossa vivência, é conquistada através de uma análise estrutural de ações e consequências como um todo, levando-nos a uma posição comportamental inteligente, e um pensamento elevado na compreensão das vantagens das mudanças em nossa vida. 

Todos nós sabemos dessa necessidade natural que temos de permanecer nas linhas construtivas de nossa estrutura humana. E sabemos também da certeza de que todos nós somos dependentes das pessoas e coisas que nos fazem bem, mas temos que receber com serenidade tudo que irá nos tornar melhores durante a passagem dos nossos dias no mundo. 

É preciso compreender os adeuses, as separações, as mudanças e as transformações que, inevitavelmente nos chegam, através de acontecimentos que nunca o desejamos, mas que fazem parte do nosso crescimento pessoal. 


Rozilda Euzebio Costa 
08 agosto 2020

Cinzas da vida

  Um homem de vida cinza e vazia, perdido em pensamentos que também estão cinzas, aqui estou eu na palidez da vida, olhando para esse tempo ...