domingo, 2 de abril de 2023

O amor não se dobra a conveniências

 

Em uma pequena cidade localizada na região Nordeste do Brasil, perto de um conjunto de montanhas belas e imponentes, vivia um homem cuja idade já ultrapassava os 40 anos e levava uma vida bem solitária, sabe. E nem passava pela sua cabeça, o pensamento de arrumar uma esposa para lhe fazer companhia em seus dias de solidão. Isso era o que todos os seus conhecidos de lá, pensavam até então.

Bem, esse homem se chamava Lucius, e era um moço muito bem apanhado em sua alta estatura. A sua pele era clara e com sardas concentradas principalmente em seu rosto. O moço tinha olhos castanhos e enigmáticos que atraiam todas as moças daquela região. Seus cabelos já estavam um pouco grisalhos, e a barba sempre por fazer. Ele gostava de manter a sua barba grande, porque ela lhe dava um ar de poder em sua aparência rústica e misteriosa.

Naquela pequena comunidade também vivia um sacerdote muito amigo de todos. Era o Pe. Caio. Pastor cuidadoso de suas ovelhas, se preocupava com cada uma delas. Ele vivia naquela comunidade há mais de dez anos, participava da vida de cada morador e já havia batizado muitas crianças e oficializado incontáveis casamentos em sua paróquia. Todos, até então, permaneciam intactos, coroados com a felicidade e as bênçãos de Deus.
O Lucius era uma ovelha muito especial para o Pe. Caio, porque ele sempre o ajudava na paróquia, inclusive fornecendo verbas para a manutenção da mesma. O padre sabia tudo sobre a vida de Lucius, e por isso, não compreendia o porquê de Lucius não encontrar uma boa mulher para se casar, pois sempre ouvia da comunidade muitos falatórios sobre moças que eram desejosas de se tornar a esposa de Lucius.
Porém, o tempo foi passando e os cenários e circunstâncias foram mudando para Lucius. Um dia, Pe. Caio percebeu que seu amigo estava triste e bastante pensativo. Assim, supôs que a causa de tal sofrimento era a falta de uma esposa. O padre decidiu ter uma conversa com Lucius, mas antes da tal conversa, tomou conhecimento de todas as candidatas possíveis a se tornar a esposa de seu amigo e servo querido. Iria arranjar uma esposa para Lucius a todo custo.
Já decidido, Pe. Caio mandou chamar Lucius na paróquia para conversar. Ele prontamente atendeu seu chamado. Os dois sentaram em um dos bancos próximo ao altar da Igreja e começaram a dialogar:
_ Lucius, meu amigo, como está a sua vida? – perguntou o padre.
_ Pe. Caio, eu estou bem. O senhor me chamou aqui, o que há de urgente? – perguntou Lucius, ávido para saber o real motivo daquele convite.
_Sim filho, eu chamei. Tenho um assunto de grande importância a tratar com você. – disse o padre.
_ Então fale padre! Estou aqui para isso. Não vai me dizer que vão transferir o senhor daqui para outra cidade! – Lucius imaginou que aquela conversa poderia ser um anúncio de despedida.
_ Não Lucius! Não é nada disso. A questão é o seguinte, você precisa se casar, e logo! – Pe. Caio falou sem rodeios, indo diretamente ao ponto.
_ Casar?! Ficou doido padre?! Ah, desculpe padre. O senhor me desculpe a expressão. Não quis falar assim com o senhor, mas é... é que... Eu nunca havia pensado nisso, sabe! Imagine o senhor, que um casamento é uma coisa muito séria! Além do mais... – Lucius silenciou.
_ Além do mais... o que meu filho? Falta de candidatas não é. Tem a Flaviana, a Henriqueta, a Gabriela, a Tereza, a Elda, a Aninha, a... aquela... como se chama mesmo? A filha do prefeito, que estudava fora e retornou para cidade há poucos dias? – Lucius interrompeu o padre:
_ Eu não acredito padre! Onde o senhor conseguiu arranjar esse tanto de candidatas para se casar comigo?! Quem são essas moças?! – perguntou Lucius, bastante surpreso com as revelações do padre.
_ Ora Lucius, por favor! Confie em mim! Eu sei que todas elas são apaixonadas por você. O que não lhe faltam são candidatas para ser sua esposa. Eu só quero ajudar você a ser feliz, meu filho! Quero te ajudar a ter uma família. Eu me preocupo mesmo com você. E sabe de uma coisa, eu tenho o sonho de celebrar o seu casamento! – disse o padre, no intuito de convencer Lucius.
_ Padre, padre... Ouça bem o que vou lhe dizer – só me casarei por amor. Por amor! Entendeu padre? Essas moças podem até ser apaixonadas por mim, mas eu não as amo, entende? Eu quero me casar com uma pessoa que eu realmente ame com toda a força do meu coração. Que me faça sentir a vontade de continuar vivendo e construindo a minha vida. Que me encha de entusiasmo a cada amanhecer. Que me faça desejar ter filhos, gerar vidas, deixar minha descendência, e também, que deixe o meu coração mais leve. Sabe padre, casar não é só escolher uma bela companhia e levar para o altar, tem que haver muito amor. – disse Lucius, expondo seu ponto de vista ao padre.

Depois de todas essas declarações, Pe. Caio imaginou que talvez Lucius já tivesse uma candidata que ninguém ainda havia descoberto. Um amor secreto. Resolveu questiona-lo:
_ Lucius...
_ Pode falar padre!
_ Você tem alguma moça em mente, com quem gostaria de se casar?
_ Como assim padre, alguma moça? Que moça?!
_ É isso que eu quero saber, meu filho! Que moça, filho?!
_ Padre, na verdade eu amo uma moça sim, mas... – Lucius silenciou e o padre, com toda a sua curiosidade aflorada, perguntou com ânsia:
_ Diga Lucius! Diga, meu filho! Quem é essa moça e o que o impede de falar sobre ela? Não me deixe nessa agonia!
_ Sabe padre, ela é...
_ Vamos! Fale logo! Fale de uma vez homem! – Pe. Caio já estava a ponto de dar uma parada cardíaca de tanta curiosidade.
_ É Lívia. Pronto, falei.
_ Meu Deus! Lívia?! Aquela mulher que tem um filho que ninguém sabe ainda quem é o pai? Aquela que trabalha na casa da Sra. Margarida? Aquela que já tem quase a sua idade?! – não era que o padre tivesse preconceito, mas também não compreendia porque Lucius se apaixonara por uma mulher que ninguém prestava atenção, uma mulher muito independente, que cuidava sozinha do filho e não dava satisfação de sua vida a ninguém. Lívia tinha quase a idade de Lucius. O padre imaginava uma esposa mais jovem e que pudesse dar muitos filhos a Lucius.

Lucius não gostou nem um pouco do espanto do padre Caio e falou:

_ Pare com isso, padre! Porque essa cara de espanto? O senhor não entende! É a Lívia que eu amo! Nunca disse isso para ninguém, mas agora o senhor sabe da verdade. Desde a primeira vez que a vi me apaixonei por ela, e nunca mais deixei de pensar nela um dia sequer. Padre, a vida é mesmo assim, o amor não se justifica pela vontade do homem, mas sim, pela vontade de Deus. O senhor como um sacerdote sábio deveria saber que Deus possui uma maneira muito especial de nos fazer feliz, de nos ensinar a amar e aprender com as pessoas que Ele coloca em nosso caminho. Eu chamo o meu amor por Lívia, de destino. O fato de nos apaixonarmos por pessoas que nunca imaginávamos amar, é destino. Amei Lívia desde o primeiro dia que a vi, e tenho certeza, ela é a mulher da minha vida. – Concluiu Lucius.
O padre ponderou, mas queria mesmo era casar Lucius com uma das filhas de seus paroquianos amigos, isso ficou claro em suas palavras a Lucius:
_ Talvez você esteja certo filho, mas não me conformo. Não me conformo mesmo. Se ao menos tentasse conhecer melhor a filha do Sr. Juarez, aquela moça tão meiga. – Padre Caio foi interrompido.
_ Padre! Ouça bem, não é esse tipo de vida que eu desejo viver! Não posso inventar um amor por alguém! Eu sei que o senhor deseja o melhor para mim, mas eu não me casarei se não for por amor. – disse Lucius.
_ Desculpe meu filho. Você tem razão. Eu é que estou sendo crítico e preconceituoso mesmo. São os pecados da minha mente ainda em evolução. Talvez, mesmo você não sendo um sacerdote como eu, tenha uma alma mais evoluída que a minha. Estou errado, e até começo a me sentir envergonhado por suas palavras. Não se deve mesmo forçar um casamento sem amor, porque isso somente lhe causaria sofrimento na vida. Além do mais, Lívia é uma boa mulher sim! Nunca a vi se comportando de forma errada. Porque você não pede logo a mão de Lívia em casamento? Eu realizarei a cerimônia com muita alegria. – O padre caiu em si e acabou concordando com o pensamento de Lúcius.
_ Sabe padre, eu até gostaria, mas nunca tive a coragem de dizer a ela que eu a amo. Temo que ela não acredite em mim. Ela é uma moça muito sofrida, sabe padre! Ela foi enganada pelo pai do filho dela. Ele a fez sofrer muito...
_ Mas, porque ela não acreditaria no seu amor, meu filho? Você precisa tentar, entende? Tentar! – aconselhou o padre.
_ Estou procurando coragem. Quando encontrar essa coragem, a pedirei em casamento, o senhor vai ver. Tem mais uma coisa que quero lhe dizer, esse casamento será o casamento mais bonito que o senhor já terá celebrará aqui em sua paróquia. – disse Lucius com entusiasmo.

A vida de Lucius continuou na mesma rotina por mais algum tempo, com a diferença de que as palavras de conforto e esperança que Pe. Caio lhe transmitia o deixava mais confiante. Já que agora, o padre já sabia de seu amor por Lívia.
Padre Caio vez ou outra procurava aproximar Lucius de Lívia, e aos poucos percebia uma mudança no humor de seu amigo. Sentia que Lívia parecia realmente ser a mulher do destino de Lucius, inclusive, já estavam se tornando bem mais próximos um do outro. Isso já era uma grande esperança para que se cumprisse o destino dos dois, que era a união em um casamento muito feliz.

O tempo foi se passando muito rápido, Lucius e Lívia já estavam cada vez mais próximos, já namorando e vivendo um relacionamento sereno. Foi então que Lucius viu que já era o momento certo de tomar a decisão do casamento. O moço tomou coragem e pediu Lívia em casamento. Para a sua alegria, ela aceitou de imediato, e pela primeira vez, revelou a ele que já o amava muito antes de Lucius se declarar para ela, que era apaixonada por ele desde quando o viu prestando serviços voluntários à paróquia onde Pe. Caio era o vigário. Disse que o admirava, gostava de seu bom humor, coisa que ela valorizava muito em uma pessoa. A certeza de que ele era o homem de sua vida foi tão forte, que ela soube desde o primeiro momento em que o viu pela primeira vez, sabia que havia encontrado o seu verdadeiro amor, o homem do seu destino. Ela sabia também que era somente uma questão de tempo para se unir a ele pelos laços do verdadeiro amor.
Assim, Pe. Caio finalmente concretizou o seu maior desejo – o de celebrar o casamento de Lucius, para que ele finalmente formasse a sua própria família e não vivesse mais tão sozinho.

Rozilda Euzebio Costa

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