Nos tempos arcaicos Narciso se admirava nas águas de
um lago, ficava horas e horas na admiração de seu próprio semblante. Enquanto
que, nos tempos atuais, as pessoas se admiram diante de um celular, de uma
câmera digital, por horas e horas, selfie após selfie, num enamoramento de si
mesmas. As pessoas se admiram num lago de imagens refletidas através dos olhos de
uma lente digital, que não reflete senão, a imagem faminta por atenção que está
a admirar seus próprios reflexos.
Numa expectativa narcisista, todos esperam que tais
reflexos próprios, atraiam do outro lado das redes virtuais que, outros olhos
famintos lhes anunciem em alto e bom tom: você está lindo(a)! É a carência tão latente
dos dias atuais, expondo a mísera solidão humana que corrói até as veias da
alma que vive em constante busca de afirmação.
Talvez eu, você, e toda o resto da humanidade, sejamos
mesmo feitos de uma constituição global de sentimentos, somos as tais poeiras
estelares citadas pelos cientistas do espaço, compostas de uma mistura de quês
e porquês, num fluido de matéria magnética, já que dentro de toda pessoa há uma
estrela encarcerada pedindo para brilhar.
Ansiando por brilho, o ser humano confunde a
liberdade com a necessidade. E falando uma língua considerada narcisista,
porque fala por si mesmo com a intenção de ser ouvido e preenchido pela compreensão,
o ser humano rasga o véu da razão, causando em si mesmo uma explosão de comportamentos
na maioria das vezes pueris e desfocados.
Há uma falência de ponderação e firmeza nos
pensamentos dos humanos dos tempos modernos, porque são na maioria passíveis de
imediata mudança de decisão, são influenciáveis demais no que tange seus
desejos e sonhos.
Há ainda uma facilidade em se transportar de um
pensamento ao outro com a velocidade da luz. A firmeza e a constância de
pensamentos não é um atributo próprio das últimas gerações. Todos estão sempre
em busca de si mesmas, mas ao mesmo tempo, seguindo a direção dos reflexos de
uma sociedade confusa e narcisista.
Há uma esperança para a auto ponderação e a autoafirmação
humana dentro dos contextos sociais que são comprovadamente narcisistas? É um
questionamento intrigante e descomunal, já que o ser humano está cada vez mais
inserido na liberdade de se expressar sem nenhum pudor ou auto avaliação prévia,
não existe um direcionamento que lhe impulsione a ir a busca do
autoconhecimento e da compreensão de sua própria completude existencial.
Rozilda Euzebio Costa
12/05/2019
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