Quando se é um jovem em transição da adolescência para a fase adulta, a prudência é apenas uma palavra contida no dicionário, cujo interesse em saber o seu real significado passa bem distante na lista de coisas importantes a serem aprendidas.
Tudo que um jovem deseja aprender está relacionado às descobertas prazerosas do mundo, e isso, claro, para um rapaz com o fogo nas calças, inclui conquistar o maior número de garotas possível, e ser considerado o conquistador do pedaço.
E quando se tem um pai que vê em seu filho o mesmo que ele fez, é motivo de preocupação ainda maior. Um jovem passando pela descoberta do sexo é algo muito sensível, e motivo de muitas preocupações paternas, pois é uma fase em que a prudência realmente passa bem distante de sua mente, aliás, nem faz parte de seu dicionário.
Neste conto é exposto a história de Ademar e Dilsinho, pai e filho, ambos muito semelhantes, além de se parecerem fisicamente, o pai se via em seu filho. A juventude de Ademar estava a se espelhar diante dele em seu filho Dilsinho.
Aquele dia tinha tudo para ser um dia comum, como qualquer outro na casa de Ademar, exceto pela discussão entre ele e seu filho Edilson, o Dilsinho pegador, como era chamado entre seus amigos da mesma faixa de idade. Levava a alcunha de, “Pegador”, porque não escapava nenhuma garota, sequer, de sua lábia, e de suas investidas.
Porém, dessa vez, a coisa foi muito mais além de uma simples conquista, e a discussão do pai com o filho não foi possível deixar de acontecer pela gravidade dos fatos.
Aquela chuva de palavras duras ouvidas de seu pai não foi apenas um alerta comum que um pai faz para o seu filho. Foi realmente um puxão de orelha daqueles bem duros e doídos, que martelou dentro do juízo. O motivo? o garoto estava “bulindo com a mulher do próximo”! E quem era o próximo? O leitor nem imagina! Quando eu digo que os jovens não tem nenhum pingo de juízo, eu não estou exagerando. O próximo neste conto aqui era o primo de primeiro grau de Dilsinho! O jovem estava bulindo com a mulher do seu primo, filho do irmão de seu pai.
A expressão “bulindo”, é uma forma bastante popular de dizer, mexendo, ou seja, cortejando.
Por sorte o jovem ainda não havia chegado às vias de fato com a mulher de seu primo, estava ainda na fase dos cortejos e investidas.
A mulher do primo também era muito nova, e não se tinha ideia de até quando ela iria resistir, porque o Dilsinho era boa pinta, um garoto bonito de pele morena, cabelos lisos, partidos para o lado direito, com algumas mechas caindo sobre os olhos.
Com o fogo da juventude quando na fase das descobertas, Dilsinho não deixava escapar uma garota, aquela que caísse em sua rede era peixe, e ele “traçava”, maneira de dizer que ele namorava mesmo.
O pai Ademar, estava sempre vigiando os passos do filho Dilsinho, mas às vezes ele conseguia fazer as coisas nas caladas da noite, e o pai não ficava sabendo. Dilsinho era motivo de muita preocupação para Ademar. O que mais lhe preocupava era o pensamento de que o filho caísse na tentação de ter casos com mulheres casadas. Já havia ouvido falar de muitos casos de conflitos por causa desses casos de jovens com mulheres casadas, inclusive sabia até de mortes de alguns homens porque buliram com mulher casada e os maridos descobriram.
O primo de Dilsinho, o Evaldo, esposo de Amanda, a personagem das confusões, estava a viajar naquele momento. Por sorte! E na discussão, Ademar esbravejava com Dilsinho dizendo:
_ Agradeça a Deus por seu primo estar viajando, senão você estava na merda. E eu, como seu pai, também estava mergulhado na sua merda seu inconsequente! Como que você vai bulir com a mulher do seu primo?! Você está louco? – o pai estava muito nervoso. No entanto, o filho se defendia e negava tais atos.
_ Quem contou isso pro senhor pai? Isso é mentira pai! É mentira! Eu nunca buli a mulher dele... O garoto foi interrompido pelo pai que estava extremamente nervoso.
_ Ah não? Deixa de ser cara de pau Dilsinho! Quem me contou não é de ficar espalhando mentiras, é uma pessoa muito séria! Não é mentira! Quem me contou ouviu você falando besteiras para ela, cantando ela! Meu Deus, eu fico só imaginando se o seu primo descobre isso! Você estará ferrado! Quando eu tinha a sua idade eu era mais prudente meu filho. E tem coisa que é falta de respeito sabia? Você está desrespeitando o lar do seu primo! – dizia o pai.
_ Tudo bem pai, eu admito que falei umas coisas para ela, mas o senhor não sabe da história direitinho... – Dilsinho foi interrompido pelo pai.
_ Ah não sei? E tem mais coisas?! Diz Dilsinho! – questionou surpreso.
_ A verdade pai, é que a mulher do Evaldo dá em cima de mim faz tempo ó! Não é de agora que eu me esquivo fugindo dela. Desde quando eles se casaram e vieram morar aqui no nosso bairro. Pai, ela já deu pra dois amigos meus, e não é mentira viu! Eles me contaram os detalhes disso. Eu sei que eu tenho as minhas culpas pai, mas o Evaldo não deu sorte com a mulher dele. Ela é uma desavergonhada pai. – disse o garoto.
_ O que que você está dizendo Dilsinho? Essa acusação é grave! – disse Ademar com ar de espanto.
_ É grave mesmo pai, e é a mais pura verdade. Se o senhor quiser eu provo.
_ Pobre do meu irmão Thiago! Que vergonha! – disse Ademar.
_ Pobre do Evaldo pai, com as galhadas o tempo todo na cabeça! O coitado tem que se abaixar pra passar nas portas. – respondeu Dilsinho.
_ Isso é coisa séria e você fica aí com brincadeira Dilsinho? – disse Ademar.
_ Não pai, eu não estou com brincadeira, é somente força de expressão. Mas ela trai ele sempre. Acho que ela não ama ele...
_ Isso não é da nossa conta Dilsinho.
_ Eu sei pai.
_ Mas isso também não justifica o seu erro Dilsinho, fica longe da Amanda está entendendo! Fica longe da Amanda, não me traga problemas pra nossa família entendeu? – alertou.
_ O senhor não vai contar pro tio Thiago, não é pai? – perguntou Dilsinho.
_ Por enquanto não. Mas vou observar esta história direitinho. Se eu comprovar que tudo isso que você está me dizendo é verdade, eu vou conversar com ele. Meu irmão precisa saber, até para evitar futuras confusões em família.
_ Pai, já que estamos falando sobre mim, tem uma coisa que eu quero falar pro senhor, porque é bom o senhor ficar sabendo. – disse o filho.
_ O que é? Tem mais problemas ainda? Tem mais coisas que não chegaram aos meus ouvidos Dilsinho? – perguntou o pai com assombro.
_ Tem pai. É muito grave também. Sabe o seu amigo e fornecedor de trigo, o Sr. Waterloo?
_ O que tem o Waterloo? – Ademar perguntou com ar de curiosidade.
_ Sabe a mulher dele?
_ A dona Raimunda?
_ Sim, a dona Raimunda pai.
_ Diz logo Dilsinho! Você está me deixando mais preocupado ainda! – disse o pai.
_ Então pai, ela vive me chamando pra sair com ela... – Dilsinho viu o pai arregalar os olhos com ar de assombro.
_ O Quêeeee! A dona Raimunda? Aquela senhora tão séria?! Você está inventando isso seu moleque! A dona Raimunda é uma senhora! Eu não quero saber de você mentindo e inventando as coisas pra mim não viu! – disse zangado.
_ Pai... – Ademar interrompeu.
_ Isso é muito, muito sério mesmo, imagina se... – Dilsinho interrompeu.
_ Pai, escuta pai, isso que eu estou falando pro senhor está acontecendo já há algum tempo! Eu é que me faço de desentendido e caio fora toda vez que ela vem com a história da gente ir pro motel.
_ Motel?! Eu estou mesmo é lascado! O meu filho envolvido até o pescoço em confusões com mulheres casadas. Primeiro descubro sobre a nora do meu irmão, agora, sobre a esposa do meu amigo e fornecedor de trigo! Aonde eu vou parar desse jeito? Meu Deus, que vergonha! – disse Ademar, decepcionado.
_ Pai, não é o senhor que tem que ter vergonha.
_ Cala a boca Dilsinho! Chega! Você, a partir de agora, vai andar bem longe da casa do seu primo Evaldo. E vai ficar muito longe também da dona Raimunda, entendeu? Me faça esse grande favor, não me arrume mais confusões. Ah meu Deus, minha cabeça vai explodir! Você tem ideia do que eu estou passando Dilsinho? – disse Ademar.
_ Desculpe pai, eu prometo pro senhor que nunca mais vou ser motivo de preocupação pra sua cabeça. Eu prometo pai. Mas já que estávamos falando da Amanda, eu achei melhor o senhor ficar sabendo também da dona Raimunda. – Dilsinho realmente falava sério.
Ademar agora tinha maiores preocupações para com o filho Edilson, o Dilsinho como era chamado. Mas foi melhor assim, ter uma conversa esclarecedora com o filho, pois sabendo o que o filho estava vivenciando, daria a ele maior clareza na forma de poder ajuda-lo a passar aquela fase de transição para a vida adulta e responsável.
Todo jovem, quando na fase da descoberta do amor e das sensações do corpo, passa por inúmeros desafios e conflitos, são desafios estes que, alcançam os pais e lhes tiram de sua zona de conforto. O importante é saber resolver os impasses com o diálogo, e com uma profunda investigação da verdade.
Os jovens são cercados de muitas curiosidades na descoberta do seu corpo e nas novas experiências e sensações. Muito do que eles vivenciam vem das influências externas, e até mesmo de uma exibição diante dos grupos de amigos dos quais fazem parte. Muitos jovens fazem coisas para provar que são donos de si, e que são capazes de fazer tais coisas. Eles não fazem porque desejam essas coisas, mas fazem porque alguém os desafiou a fazerem.
Acompanhar o desenvolvimento físico e psicológico dos filhos é uma obrigação dos pais, é uma ação que não pode ser transferida para a sociedade. É em casa, no seio familiar, que os pais precisam estar sempre dialogando com os filhos, esclarecendo as suas dúvidas, ouvindo-os com paciência e sem prevenção. Há pais que não deixam os filhos falarem de suas dúvidas e curiosidades, porque eles próprios trazem consigo muitos tabus, vividos e experimentados por eles mesmos na infância e adolescência com seus pais.
Se os pais não falam abertamente e de forma prudente com os filhos, a rua vai falar, e o pior, a rua vai falar da forma mais inadequada e perigosa possível, usando a linguagem da experiência real, causando-lhes dores, traumas, e trazendo-lhes imensos sofrimentos, os quais eles levarão suas marcas por toda a vida. Muitos jovens poderiam ter tido destinos diferentes, e terem tido uma vida mais feliz, se seus pais tivessem tido com eles, diálogos esclarecedores no seio familiar.
Rozilda Euzebio Costa
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