Pelas vielas da imaginação passa o pensamento reto,
passa o atrapalhado, o torto e o sem conserto.
Nestas vielas passa correndo o tempo,
vão horas quase apagadas e minutos descoloridos,
remendados como retalhos de memórias em preto e branco,
que vão sendo levadas pelas ventanias da ansiedade,
memórias às vezes ferozes, indomáveis e furiosas,
passando apressadas, vão procurando um tempo perdido.
Vai o homem carregando o seu céu pintado de azul anil,
numa velocidade que quase não deixa rastros.
E depois que se vai se perguntarem por ele,
todo mundo responde: ninguém o viu!
Alguém disse bem alto quase gritando:
abre os teus olhos! Bem à frente há um muro,
a dividir as nossas expectativas e sonhos!
Quem gritou? Quem gritou?!
Foi um andarilho perturbado dizendo anedotas.
Quem pode salvar o homem de seus terríveis enganos?
Insiste em perguntar repetidamente uma boca aberta faminta,
que ninguém consegue ver com olhos humanos,
mas ela devora sonhos e esperanças humanas.
Seria acaso aquele deserto da vida que vive em chamas,
que qualquer acontecimento novo e inusitado está cogitando?
E as vielas com seu grande trafego vão continuando,
em um vai e vem de coisas ligeiras e eufóricas,
a pressa de mãos dadas a elas vai ligeira.
Tem quem adentra por estas vielas e jamais volta,
e tem também quem não deseja caminhar por elas,
são desejos que permanecem em cima do muro,
acocorados contemplando o balançar das horas,
que no seu badalar vão ofertando suas doces ilusões.
Há ainda as expectativas embaladas para viagem,
repletas de abandono, pó e teias de aranha,
expostas nas vitrines dos olhos do sonhador,
que todos os dias imagina seus sonhos,
nos braços da esperança sendo acalentados,
e colocados no berço de ouro do tempo
para dormirem o sono da eternidade.
Rozilda Euzebio Costa
31 de março de 2021
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