"Eu falei muitas vezes e ninguém me deu crédito. Recebi o silêncio como retorno do meu pedido de socorro. Gritei mas ninguém ouviu o meu grito.
Eu fiquei triste e ninguém notou a minha tristeza. Me isolei tantas vezes e ninguém questionou a minha ausência.
Poucas vezes alguém emprestou os ouvidos às minhas palavras, e recebi apenas críticas infundadas pelas minhas declarações.
Cada dia a tristeza me consumia mais e mais, no entanto, ninguém notava.
Falei de amor tantas vezes encorajando pessoas, mas era eu quem estava precisando de amor."
A depressão é um porto obscuro onde nos aportamos e não conseguimos mais sair. É uma grande fenda que se abre após uma enxurrada de decepções que sofremos. Estas decepções vão aos poucos construindo o abismo que nos separa do lado positivo da vida. De um lado queremos construir uma ponte para atravessar este abismo e voltar a sonhar em experimentar a felicidade. E de outro, não conseguimos a motivação e o interesse suficiente para construir a ponte e atravessa-la.
A maioria de nós não saberia dizer em que momento da nossa vida a nossa alma se perturbou e foi afetada. Não saberíamos identificar os pontos cruciais que causaram em nós certas brechas em nossos sentimentos. São coisas que vão surgindo e nos entristecendo ao longo do nosso viver. Não saberíamos nem mesmo dizer porque algumas decepções nos ocorreram, e nem porque demos a elas tanta importância.
Já derramamos tantas lágrimas que não fomos capazes de evitar durante a nossa vida! Algumas delas vieram de perdas afetivas que tiveram grande importância para os nossos sentimentos, e que nos pareciam fundamentais para o nosso ideal de felicidade.
Algumas pessoas conseguem lidar muito bem com as perdas afetivas, com as diversas decepções que sofrem na vida, mas a maioria não suporta as brechas causadas no coração por uma diversidade de acontecimentos tristes. Muitos caem em profunda depressão, perde a capacidade de sonhar e não deseja mais viver.
Existem pessoas que demonstram visivelmente as características da depressão, estas são mais fáceis de serem diagnosticadas pra receberem tratamento. Mas uma grande maioria sofre a depressão e não apresenta as características em público. Podemos vê-las sorrindo e conversando alegremente, como se não sofressem as mazelas da depressão. Elas camuflam suas dores e tristezas no mais profundo da alma e somente as manifesta quando estão sozinhas, fechadas e isoladas de todos.
Embora grandes “experts” da autoestima costumam dizer que “somos o que pensamos” e que podemos mudar a nossa realidade mudando a direção dos nossos pensamentos, mas podemos perceber claramente que nós nunca tivemos e nem teremos o total controle sobre os nossos pensamentos e sentimentos. Os livros de autoajuda nos dão direcionamentos que nos parecem até fáceis de serem seguidos, mas eles não são a cura. Na verdade todos os métodos de transformação através do pensamento são possíveis saídas a serem experimentadas, mas eles não dão nenhuma garantia de mudança, porque os nossos sentimentos, e o que nós pensamos, está muito além do nosso domínio. Nossos pensamentos são gerados por energias indomáveis. São forças extraordinariamente geradas no âmbito da alma.
De todos os métodos que tenho observado para a cura da depressão, a mudança de ambiente e até mesmo de cidade, provocando uma alteração no convívio social e cultural, tem sido um dos mais atraentes ao meu ponto de vista para a promoção de uma mudança de comportamento e de interesse. Com a mudança das rotinas, dos cenários e do meio social, criando uma nova convivência, o depressivo passa a partilhar de outras culturas, de outras novidades, fazendo com que ele mude seus focos, interessando-se por alguma coisa nova, que promova nele uma curiosidade natural de compreender o novo ambiente. Com isso, seus pensamentos depressivos entram em choque com a nova realidade que se lhe é apresentada lhes causando confusão. Esta confusão de foco é o princípio da mudança dos velhos e costumeiros pensamentos depressivos.
É certo que ninguém pode diagnosticar com clareza a depressão quando ela está ocultada em uma pessoa que mantém uma postura aparentemente normal, e que não apresenta suas características depressivas a olhos vistos. No entanto, muitas pessoas que sofrem a depressão, não encontra a compreensão dentro de seu próprio seio familiar, e nem mesmo em seu grupo de amigos. Ao contrário, além de não serem compreendidas, estas pessoas são julgadas de forma equivocada em suas manifestações de tristeza e de desinteresse pelas coisas da vida.
É preciso olhar com mais atenção para quem demonstra desinteresse em praticamente tudo na vida. Procurar não criticar o comportamento desinteressado desta pessoa. A ajuda pode vir da família e dos amigos, com a construção de uma ponte de comunicação confiável, para que ela venha a atravessá-la, reencontrando suas raízes e seus sonhos, outrora perdidos em alguma desilusão, passando com este novo passo, a ter novos interesses e novo estímulo de vida.
Rozilda Euzebio Costa
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