Embora, com histórias de vida bastante distintas, as três tiveram desfechos muito diferentes uma da outra. E apesar de não terem nenhuma ligação familiar entre elas, ambas tinham algo muito em comum, que era o nome!
O que tinha de timidez em Teresa Cristina, também tinha de beleza, era uma menina muito bonita, a sua beleza era notável. Tinha uma pele morena cor de jambo. Cabelos encaracolados que despencavam ombro abaixo na altura de sua cintura, olhos grandes e amendoados. Jacobina, sua mãe, cuidava muito bem dos cabelos da filha, e sentia um orgulho enorme ao ouvir os elogios de suas amigas quanto à beleza de sua filha. Ela mesma achava aqueles caracóis tão lindos! Cuidava para que os cachos castanhos e brilhantes de sua filha ficassem cada vez mais belos.
Certa vez Teresa Cristina disse para a mãe:
_ Mamãe, eu acho lindo como as freiras se vestem e como elas vivem, também vou me vestir assim, quando eu me tornar uma freira, com aqueles vestidos longos e aqueles véus na cabeça. Eu quero ser uma freira, mamãe! Serei a freira mais feliz desse mundo. Vou trabalhar somente para Deus, auxiliando as pessoas.
Jacobina até que gostava de ver Teresa Cristina com tais desejos e lhe fazia elogios, lhe incentivava. Imaginava que servindo ao Senhor, sua filha quando morresse, iria direto para o céu. Esse era o pensamento da mãe de Teresa Cristina.
Já Teresa Edviges, era sabido por todos em sua casa, que sua mãe, a d. Miguelita, era uma mulher bastante devota de todos os santos. Na verdade, as paredes da casa de Miguelita eram uma verdadeira alegoria, toda decorada com a imagem de tudo quanto é santo existente nas esferas celestes. Nas paredes tinham quadros com imagens de Santo Antônio, São Francisco, Santa Teresinha, Santa Clara, São Gerônimo, Santo Agostinho, São Sebastião, São Gonçalo, São Lourenço, Santa Luzia, São José, Santa Edviges, e mais uma dezena deles. Era uma comunidade inteira de santos a enfeitar as paredes da casa de Miguelita.
A mãe de Teresa Edviges, assim que se tornou adolescente, descobriu a comunidade dos santos celestes. Daí em diante, não os deixou mais em paz, e por qualquer coisa Miguelita incomodava os santos.
Nos tempos de escola, todo ano Miguelita fazia promessas para um santo, para que esse pudesse ajudá-la a tirar notas boas em suas provas, pedia para não ficar reprovada de ano e ter que voltar a repetir a mesma série.
Depois que cresceu e se tornou adulta, Miguelita passou a incomodar ainda mais os santos do céu. Queria ajuda para encontrar um namorado rico pra se casar com ela. Mas o tempo foi passando e nada de encontrar esse tal marido rico.
Quando percebeu que os anos estavam lhe devorando a beleza, lhe tatuando rugas na face, passou a recorrer aos santos com maior súplica, mudando as características do futuro marido; pedia-lhes que lhe concedesse um maridinho pobre mesmo, não precisava nem ser bonito, desde que a amasse, já estaria bom demais. Foi então que suas súplicas foram atendidas. Casou-se! Na hora de agradecer aos santos, já não sabia mais para qual deles agradecer, porque havia feito o mesmo pedido suplicante para tantos santos! Resolvera então fazer um agradecimento coletivo. Orou e acendeu velas para todos os santos das paredes de sua casa. Assim, pensou; todos eles ficariam felizes e satisfeitos.
Pouco tempo depois de Miguelita ter se casado, essa pensou em ter logo todos os seus filhos, quanto antes nascessem, melhor para ela, porque ainda teria força e disposição física para cuidar dos filhos, e também para se dedicar aos cuidados de seu corpo e não ficar uma mulher sedentária e descuidada, não queria que seu corpo ficasse feio e desfeito. Ainda teria tempo de recuperar a sua forma física. Ela era uma mulher com uma medida razoável de vaidade.
No entanto, muitos anos se passaram após o casamento de Miguelita. Quase dez anos! E ela nada de engravidar! Foi a partir de então que Miguelita se apegou ainda mais com todos aqueles santos emoldurados de sua parede. Era um clamor infindável aquele de Miguelita! Ela peregrinava de Santo em Santo, dia após dia, numa perturbação terrível! A perturbação não era para ela, mas para os coitados dos Santos que tinham que ficar ouvindo suas infindáveis ladainhas petitórias todos os dias, sem folga, sem feriado, eles não tinham férias das súplicas dela. O marido de Miguelita já até se acostumara a vê-la de joelho diante das paredes a olhar para os quadros dos santos pedindo para engravidar. Ele, vez ou outra se perguntava – e se o problema for comigo? – mas não era, o problema era mesmo com Miguelita. O médico já havia dado o diagnóstico, era por isso que ela recorria a um milagre dos santos.
Porém, durante uma estação de verão, Miguelita teve seu o pedido atendido. Engravidou! Mas na hora de pagar a promessa do pedido que ela fez; eis aí outro impasse! Como havia feito o pedido para engravidar para uma comunidade inteira de santos, ela não sabia ao certo qual deles havia atendido o tal pedido! Decidiu pagar a promessa a todos, atribuiu o milagre a todos, e agradeceu com alegria um a um novamente. Fora quase um dia inteiro de velas acesas dentro de casa, muita oração e agradecimento. A casa ficou toda iluminada de luzes de velas. E, se quando a criança nascesse fosse uma menina, daria a ela os nomes de Santa Teresinha e Santa Edviges. A filha se chamaria; Teresa Edviges!
Nove meses depois, nasceu Teresa Edviges, e por incrível que pareça, a menina já nasceu muito sapeca. Nossa, como era vaidosa a Teresa Edviges! Era exibida ao extremo.
Por levar o nome de duas Santas, Teresa Edviges não deveria ser assim tão vaidosa e desejosa das coisas mundanas. As pessoas estranhavam o comportamento de Teresa Edviges, que, mesmo tão novinha, já tinha tanta vaidade e fazia a mãe gastar muito dinheiro lhe comprando as roupas e calçados da moda.
Esperava-se que Teresa Edviges se dedicasse a uma vida religiosa, já que nasceu de um milagre, mas as coisas não discorreram bem assim. Ela dizia que ao crescer, seria uma atriz famosa! Mais precisamente, uma atriz de cinema! Sonhava em ver a sua imagem nas telas de cinema do mundo inteiro! Desejava ser seguida por uma multidão de fãs. E por sua cabecinha de vento nem se passava a hipótese de viver uma vida religiosa.
Já, Teresa Maria, logo que nasceu fora abandonada por sua mãe biológica nas calçadas de uma residência de um bairro de classe média onde morava Marinalva, que a adotou como filha. Marinalva, quando a pegou e a aconchegou em seus braços, decidiu chama-la de Teresa Maria. A adotou como filha. Teresa, porque era o nome de sua mãe, aquela que a partir de então seria a avó de Teresa Maria. E teria Maria como segundo nome, por ter sido abandonada pela mãe biológica de uma forma muito insensível, largada numa madrugada fria, e enrolada em flanelas vermelhas sobre uma calçada.
Teresa Maria só foi vista naquela calçada ao raiar do dia, quando Marinalva saiu para ir comprar pães e leite para o café da manhã. Nem mesmo o vigia havia notado aquele pequeno anjo enrolado e dormindo no cantinho da calçada, na entrada da casa. Marinalva logo que pôs seus olhos sobre aquele pacotinho vermelho, correu a ver o que era. Ao chegar perto, a menina se mexeu e deu um pequeno gemido. Marinalva recolheu depressa a pequena, levando-a para dentro de casa e dando logo a ela os primeiros cuidados. Foi enquanto alimentava a criança com uma mamadeira de leite, que notou que ela olhava fixamente em seu rosto, com um olhar puro e sereno, e Marinalva não teve dúvidas de que aquela pequena criatura fora amparada naquela madrugada fria, pelos braços quentes de Nossa Senhora, a virgem Maria Santíssima. Decidiu também homenagear Maria, a mãe do menino Jesus, e lhe deu o nome de Teresa Maria.
Teresa Maria era uma menina linda, de olhos grandes e tão brilhantes que pareciam duas jabuticabas maduras. Os seus cabelos eram também negros e lisos. Suas bochechas eram rosadas e aveludadas, como dois pêssegos maduros. Ela possuía uma maturidade e uma inteligência incrível, até fora do comum. Desde pequena sempre fora muito delicada em suas atitudes. Era muito obediente e sensata em qualquer coisa que fosse fazer. A única fraqueza de Teresa Maria era a sua queda por doces e massas. Marinalva sofria na tentativa de evitar que a filha engordasse, mas não teve jeito, Teresa Maria foi acumulando muito peso ao longo dos anos, até ultrapassar todos os limites e ela já não conseguir mais controlar a obesidade.
Quando chegou o tempo de ir para a Faculdade, Teresa Maria já com dezenove anos, já estava muito acima de seu peso e não conseguia mais lidar com as críticas da própria família em relação a isso. Juntou a questão da cobrança familiar para que ela emagrecesse, e o bullying que ela sofria de seus colegas de aula na Faculdade. As coisas só foram piorando, dia após dia, enquanto ela ia perdendo todo o entusiasmo pela vida.
Marinalva sofria ao extremo por ver a filha naquele estado triste de vida, mas ela não conseguia fazer muita coisa por Teresa Maria, tentava leva-la ao psicólogo, mas os cenários não mudavam muito, porque a jovem não conseguia lutar contra a sua ansiedade. Marinalva se virava como podia, tinha outros filhos, e controlar a cobrança deles para que Teresa Maria se esforçasse para emagrecer, também era muito difícil. Eles não compreendiam Teresa Maria, não compreendiam que a sua situação não era somente física, mas também psicológica. A cura de Maria Teresa não dependia somente de Marinalva. Parecia que aquela menininha encontrada na calçada de sua casa há dezenove anos, já não queria mais lutar para viver.
Não suportando mais a violência verbal sobre suas condições físicas, Teresa Maria caiu em profunda depressão. Em menos de dois anos de convivência com a depressão, isolou-se de todos, ao ponto de não desejar nem mais a presença da mãe Marinalva. Não queria ver ninguém, não queria mais ouvir conselhos, pois quando alguém os trazia aos seus ouvidos, eram como facas afiadas a lhe ferir a alma. Junto com a depressão vivenciada por ela continuamente, veio também outros problemas de saúde, como problemas cardíacos e pulmonares.
Marinalva, embora amasse tanto Teresa Maria, ao ponto de desejar dar a própria vida para que sua saúde fosse restaurada, não conseguiu ajudá-la a vencer a luta contra a depressão. Teresa Maria morreu aos vinte e um anos.
Quanto à Teresa Cristina, aquela que desejava se tornar uma freira, essa, mal completou quinze anos e já andava de namoricos pelos pátios da escola. Que coisa hein! Como as coisas mudam! Tudo indicava que ela seria a freira mais fiel de sua comunidade. Mas não, as coisas desandaram e tomaram um rumo tão diferente! Teresa Cristina só dava trabalho aos pais. Toda semana chegavam reclamações vindas da escola de Teresa Cristina. E toda semana, seu pai botava para correr de sua porta alguns candidatos a namorado de Teresa Cristina. Era uma coisa infernal aquela situação, um caos, na verdade. Teresa Cristina ficou tão bela que deixava os rapazes loucos por ela. Os pais acharam por bem casá-la o mais depressa possível, antes que algo pior acontecesse. Assim, quando surgiu um candidato adequado a marido de Teresa Cristina, os pais cuidaram de fechar os acordos necessários para o casamento. Teresa Cristina se casou aos dezoito anos com um jovem soldado e teve cinco filhos. Ela formou uma linda família.
Mas, quanto à Teresa Edviges, aquela que levava o nome de duas santas, às quais sua mãe Miguelita era devota, aquela que desejava ser uma atriz famosa desde menina, tomou outros caminhos muito diferentes. As coisas não saíram bem do jeito que ela sonhava na sua adolescência. Antes mesmo de completar doze anos, os pais de Teresa Edviges se separaram. E mesmo sendo filha única, sua mãe a colocou para trabalhar como babá. Daí em diante, ela passou a viver e trabalhar em casas de famílias cuidando de crianças. Inicialmente começou trabalhando e morando nessas casas de família em troca de estudos, roupas e calçados. Depois que cresceu passou a ganhar um salário por seu trabalho. Teresa Edviges foi vivendo nessa vida, entre os sonhos de ser atriz, e uma vida muito dura de trabalho, cheia de batalhas incontáveis.
Tempos depois, Teresa Edviges deixou a função de babá para trabalhar como diarista, limpando residências. Dizia que ganhava mais, e ela mesma controlava os dias que podia trabalhar.
Já com dezessete anos completos, e ainda trabalhando como diarista, Teresa Edviges foi a um passeio juntamente com um grupo turístico. O grupo visitaria algumas cidades, e entre elas, uma cidade onde também iriam conhecer um Santuário de Santa Edviges. Tão logo adentrou o Santuário, seu coração disparou e começou a bater muito forte. Ela sentiu uma emoção muito grande. Sem compreender o que estava acontecendo, ela começou a chorar. Não era um choro de tristeza, mas um choro de alegria. Era como se ela tivesse acabado de encontrar algo que procurava há uma vida inteira! Parecia que naquele momento, naquele lugar, ela acabava de conhecer a sua verdadeira vocação. Era isso! Teresa Edviges teve certeza plena em seu coração que nascera para ser uma religiosa, e que seu nome, não lhe havia sido dado por acaso. Era seu destino ser uma religiosa. Não desejava mais ser uma atriz de cinema. Não queria mais ser nenhuma outra coisa no mundo, que não fosse uma freira. Só queria ser uma servidora de Cristo na Terra. Queria de verdade, ser uma freira.
A partir daquele dia, Teresa Edviges entrou para a vida religiosa, e nunca mais saiu dela, doando-se inteiramente ao serviço da igreja. Suas ações levaram Jesus a incontáveis pessoas. Teresa Edviges viveu toda a sua vida como uma freira. Foi fiel a todos os ensinamentos de Jesus, até o fim de seus dias. Teresa Edviges morreu com noventa anos de idade, depois de já ter deixado um legado de caridade por onde passou.
E assim, termina esta história das três Teresas! Teresa Cristina, Teresa Edviges, e Teresa Maria.
Rozilda Euzebio Costa
Muito bom! A escritora mais atuant do Estado do Tocantins!!
ResponderExcluir